sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

antes de começar

O post obrigatório. 2012 foi um ano excelente para mim e péssimo para o País. Aprendi imenso e tive mesmo muita sorte ao longo de todo o ano. Estou feliz como já não era há... anos. Foi um ano de limpeza, em que tudo (curiosamente foi mesmo tudo) o que era falso ou velho ou mau ficou para trás, e só ficou o brilhante, o quentinho e o doce. Mesmo os amargos de boca não assumiram as proporções de antes, foram pedrinhas no sapato. E as que ainda cá andam acabarão por sair, transformadas em diamantes. que me cairão nos bolsos

O ano de 2013 está a assustar-me um bocado. Pelo País, mas também pelos efeitos que o País poderá ter em mim... e em vocês. De qualquer forma, e como sempre, tudo acabará em bem, as coisas acabam sempre por se arrumar, ir parar ao seu devido lugar. A lei da retribuição é forte e não falha, mesmo que às vezes tarde. 

Para 2013 faço votos que dêem, ou continuem a dar, apenas e só aquilo que querem receber. É o que será feito deste lado também.


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

(des)ligar o cérebro

Achei esta entrevista muito interessante. Trata os efeitos da Internet no nosso cérebro, nomeadamente a forma como esta tecnologia veio influenciar a nossa capacidade de atenção, concentração, de aprendizagem e a nossa memória. 

Segundo o entrevistado, a Internet é responsável por uma mudança de paradigma: leva-nos a distrações constantes, torna difícil a concentração profunda numa tarefa, sendo ela frequentemente interrompida por informação vinda de todos os lados (conversas ou atualizações em redes sociais, links para outros sites, etc). O tempo passado em frente ao computador é muito diferente daquele que antes passávamos a ler um livro, a pintar, a tocar um instrumento ou mesmo a ver um filme - diferente pela quantidade de interrupções que suscita, mesmo durante tarefas criativas. Ora, o ser humano treina-se e otimiza-se sempre no sentido do estilo de vida que tem, logo, é natural que as gerações futuras (e mesmo a minha já o começa a fazer) organizem a sua maneira de pensar e estar de forma diferente, tornando-se o mais eficientes possível neste novo paradigma.

O autor interroga-se sobre os efeitos nefastos que tal mudança pode ter sobre nós. O que poderá acontecer se, de repente, começarmos a contar com a Internet como fonte de informação fácil e imediata, dispensando o nosso próprio cérebro da sua função de reservatório de informação e de conhecimento? Na sua opinião, podemos mesmo perder a capacidade de fazer análises profundas da realidade, por nos faltarem memórias e conhecimentos (já que contamos com eles num reservatório que nos é exterior).

Isto é preocupante, mas deixou-me a pensar na outra possibilidade. É certo que estamos em constante mutação e esta parece-me uma evolução significativa, mas em que sentido irá ela? O que faremos nós quando de repente não tivermos de nos lembrar de nada? Tornar-nos-emos seres estúpidos? Dependentes de estímulos vindos de um ecrã? E se acontecesse exatamente o inverso? Na verdade, a tendência do ser humano é a de evoluir, não de estagnar nem de andar para trás. E se abríssemos então a nossa mente para novas experiências (sei lá, quase de ficção científica) que agora nos parecem totalmente impossíveis, como a comunicação telepática, a cura de doenças pelo poder da sugestão, e outras coisas que ainda nem me passam pela cabeça?

Como o próprio admitiu, inicialmente diabolizou a Wikipedia e agora já acha que estava enganado. E fez uma analogia entre a Internet e invenções simples como o relógio mecânico e os mapas (que vieram alterar a forma como concebíamos o Espaço e Tempo, mas não para pior). Por tudo isto eu pergunto-me: poderá a Internet dar-nos disponibilidade mental para abrir portas a uma realidade totalmente nova, desconhecida e... positiva para todos nós?


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

só não vê quem não quer

Umas palavras relativamente à greve de dia 14, em especial aos confrontos com a polícia em frente à Assembleia da República. Estes foram os factos que apurei, através de jornais e dos relatos de pessoas em quem confio e que presenciaram os acontecimentos:

  • estiveram presentes aproximadamente 5 mil manifestantes em frente à AR
  • houve um grupo de cerca de 40 pessoas que atacou e insultou as forças de segurança no local
  • o ataque deste grupo durou cerca de 2 horas
  • o grupo era constituído por adolescentes (pelo menos um com 15 anos) e adultos, aparentemente sem pertencer a nenhum grupo organizado nem ter especial orientação política
  • a polícia manteve-se firme e não agiu durante esse período de tempo, no sentido de deter os atacantes nem de impor a ordem
  • havia polícias à paisana no local, entre os manifestantes, que também não agiram nesse sentido
  • elementos do grupo de manifestantes colocaram-se entre os atacantes e a polícia, tentando interromper o lançamento de pedras, sem sucesso
  • duas horas depois, a polícia utilizou um megafone para tentar dispersar as pessoas e através do qual anunciou que ia avançar sobre os manifestantes, momentos antes de o fazer
  • a polícia avançou sobre os manifestantes, atacando pessoas indiscriminadamente
  • a polícia insultou e espancou centenas de pessoas, entre manifestantes inocentes, atiradores de pedras, idosos, pessoas que transportavam crianças e pessoas que nem estavam a manifestar-se
  • pelo menos um homem sem-abrigo foi espancado pela polícia, num jardim na zona de Santos, sem que tivesse sequer estado presente na manifestação

Conclusões que se podem retirar deste cenário... a atuação da polícia não foi «exemplar» conforme a classificou (vergonhosamente) Cavaco e Passos Coelho. Longe disso. Por que motivo não foram os atacantes imediatamente imobilizados e detidos? Por que motivo a polícia deixou escalar a situação, quando poderia perfeitamente, ao longo de duas horas, ter identificado os culpados e evitar o massacre que se seguiu? A polícia teve, claramente, ordens para não agir. Se as ordens foram prévias ou ocorreram ao longo do ataque com pedras, não sei. Mas qual a importância dessas ordens e quais os seus verdadeiros motivos? 

As consequências desta atuação estão à vista: o medo. Medo de nos manifestarmos livremente. E essa foi, sem sombra de dúvidas, a maior vitória deste Governo. Curioso é também o facto de tudo isto ter acontecido depois de o Governo ter anunciado, para o Orçamento de 2013, um aumento de 10% para o Ministério da Administração Interna.

Posto isto, só não vê quem não quer. Resta-nos denunciar, denunciar, denunciar. Para que não haja medo. Para que continuemos a manifestar-nos, de preferência protegidos pelos órgãos de segurança a quem pagamos mensalmente, através dos nossos impostos. Não tenhamos medo, continuemos lá.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

sobre a questão do dinheiro

Durante toda a vida, desde pequeninos, somos ensinados a ter sentimentos negativos em relação ao dinheiro. O dinheiro é sujo, é mau. Anda nas mãos de toda a gente, não se deve pôr na boca. Devemos até lavar as mãos depois de lhe mexer. Quem tem muito dinheiro só pode ser um aldrabão, um corrupto, uma pessoa fútil ou sovina - o Tio Patinhas é um bom exemplo (Uncle Scrooge) do que nos enfiaram olhos adentro desde que sabemos ler e fazer contas.

Por esta ordem de ideias, numa altura em que o dinheiro escasseia, faria sentido sentirmo-nos especialmente bem: seres puros, incorruptos, simples na nossa humilde e despojada existência. Mas não. Sentimo-nos  mal, tristes e indignados, com laivos de uma revolta homicida que se exprime em páginas e páginas de blogues ou conversas intermináveis com outros igualmente indignados.

Temos mixed feelings em relação ao dinheiro. É um "nem contigo nem sem ti" permanente. Adoramos gastá-lo, mas sentimo-nos culpados a seguir. Gostaríamos de partilhá-lo, mas temos medo de o perder. Eu sinto-me especialmente vitimizada por esta forma de olhar o dinheiro, especialmente por parte da família do meu pai (acredito que a coisa me tenha ficado mesmo nos genes), que sempre viveu mal para deixar uns milhões (salvo seja) na cova.

Talvez fosse, então, de olhar a questão do dinheiro de outra forma, desde pequenino. Porque o dinheiro, efectivamente, é uma coisa fantástica. Faz-nos sentir bem, proporciona-nos boas experiências, permite-nos comprar carradas de coisas ou, quanto muito, passear pelos corredores do shopping sem sentir um aperto na garganta. O dinheiro deixa-nos dormir de noite. Aliás, acredito que olhar para uma conta bancária choruda com o seu nome no topo seria um calmante instantâneo para a maioria dos portugueses nesta altura.

Por tudo isto sugiro uma mudança de mentalidades. O dinheiro é amigo, nós queremos dinheiro e gostamos que todos tenham dinheiro. Os ricos não são necessariamente Tios Patinhas e não tem mal querer ser um Tio Patinhas. Sim, obviamente que o dinheiro não é tudo. Mas é bom, muito bom, ter dinheiro para gastar conforme se quiser, ser capaz de pôr algum de lado, mas gastar o que nos apeteça. Porque afinal de contas, fomos habituados a isso, ou a algo próximo disso, também desde muito pequeninos.

E é isto. Às vezes dá-me para escrever lições sobre como ensinar os filhos, embora eu não os tenha.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

mimo

Durante muitos anos, nas manhãs de 21, a menina era acordada pela música de um livro (daqueles que tocam quando se carrega num botão ou quando se abre a página), que lhe cantava os parabéns. Acordava-se cedo nessa altura, para ver os bonecos se tivesse sorte, mas principalmente para ler e brincar no quarto ou no quintal. A 21 era diferente, acordava-se para receber presentes ainda na cama (o livro a tocar na sua voz electrónica) e depois, sim, começava mais um dia. 

Havia sempre grandes festas, com muitos meninos e meninas, a fazer o pino no sofá da sala, com os primos de sempre e com os parentes distantes (não tão distantes, mas que pareciam de outro país) cheios de abraços a cheirar a velho, lenço na cabeça e cara triste. Tinham de vir, todos os anos tinham de vir, vinham de longe, muito longe para ver a menina, que não se sentia especial pelo esforço e devoção, mas antes desconfortável com isso. Até que deixaram de vir. 

Cantava-se os parabéns, às vezes num bolo "de dois andares", como ela pedia. Era sempre bom, mas também um bocadinho melancólico, ela nunca soube explicar porquê. Num dos anos acordou antes da mãe e, quando viu que não ia haver livro a dar música conforme habitual, desatou num pranto. Mimo, muito mimo. A mãe lá foi, esbaforida, buscar o livro e repetiu-se o ritual, um bocadinho às três pancadas, mas cumpriu-se a tradição.

Algumas tradições são importantes. Os aniversários, por mais que digam que não, são importantes. E o mimo é importante. Entre tanta tristeza social, injustiças, revolta calada, sede de um sangue nas ruas que nunca mais vem, mentiras e desilusões... o mimo este ano é mesmo muito importante.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

sobre a natureza humana e a ilusão liberal

Ainda propósito do terror da esquerda, gostaria de esclarecer algumas mentes confusas.

Em primeiro lugar, importa dizer que não sou comunista. Estas reflexões que aqui faço não têm como objectivo alistar ninguém, até porque eu própria não pertenço a nenhum partido. São apenas reflexões, ponto.

Posto de lado aquele que seria motivo suficiente para metade de vós fechar a página, vamos ao que me interessa hoje dizer. O principal argumento contra o Comunismo assenta no facto de que a sua ideologia é demasiado utópica, pois a natureza humana não permite a sua aplicação. Somos demasiado isto ou aquilo para aceitar que "a minha enxada é na verdade a enxada do meu vizinho e, como tal, ele também a pode usar". Ou somos demasiado assim e assado para viver sem noções de propriedade privada, meritocracia, hierarquias, etc.

Concordo com tudo isto. E sempre empatizei muito com o senhor que não queria largar a sua enxada (não sei se conhecem o vídeo a que me refiro, da altura do pós 25 de Abril, em que se fizeram vãs tentativas de mostrar o Comunismo ao "Portugal profundo").

Agora, no extremo oposto temos o sistema atual. O liberalismo económico defende que os Mercados regulam tudo, não precisam da intervenção Estatal. E foi com fé nesta premissa que o Governo lançou à rua a (já posta para debaixo do tapete) TSU, acompanhada da descida da contribuição das empresas. Foi também com fé nesta premissa que o Primeiro Ministro convidou os grandes grupos a "baixar os preços" dos seus produtos. Ou seja, os Portugueses ganham pior? Não há problema porque o sistema autoregula-se: as empresas, ao receber este benefício, deverão simplesmente reduzir preços e tudo acabará em bem.

Acontece que esta fé nos Mercados é tão descabida como a fé na natureza humana, porque os Mercados são, naturalmente, movidos por pessoas. Logo, é irrealista esperar que os Mercados se autoregulem de forma justa, ou esperar que a Jerónimo Martins baixe o preço do pão a tempo de impedir que mais uma centena de famílias passe fome. Os Mercados autoregulam-se, sim, mas não de um dia para o outro. O monstro espera, enquanto está de barriga cheia, para ver o que acontece. E é nesse compasso de espera, que pode levar meses ou anos, que se vão destruindo vidas: em nome da manutenção de um sistema monstruoso que só alimenta regularmente um grupo restrito de cidadãos. É isto o liberalismo económico. É por isto que devemos manter a intervenção do Estado na economia. É por isto que devemos proteger serviços básicos (Saúde, Educação, Transportes, Informação) das privatizações.

Eu acredito na Democracia e sei que ela, na sua génese, deve ser defendida. Não mantida como exercício teatral, em que gestores se mascaram de políticos e fingem servir os cidadãos que governam, quando na verdade alimentam apenas certos interesses. É preciso defender a Democracia na plenitude do seu conceito, o poder do povo, uma democracia interventiva, participativa, com manifestações, greves, votos contra e a favor, com partidos políticos (sim! nascidos de movimentos da sociedade civil ou não, mas partidos políticos que visem, também eles, defender a Democracia); uma Democracia com oportunidades, que permite crescer a quem tem mérito para isso, mas também protege e ajuda os que têm maiores dificuldades... uma Democracia com Futuro e com tudo a que temos direito.

Por tudo isto é que devemos continuar na rua. O Governo procurou, com mais um passinho de dança, levar-nos a engolir medidas ainda mais gravosas que as que propuseram anteriormente. Continuamos reféns de um sistema económico que está a engolir o nosso sistema político. Vamos defender a Democracia, recusemo-nos a alimentar o monstro europeu (reminder: não sou comunista nem sonho com o desmantelamento da UE) que nos esmaga e impede de olhar o Futuro com alguma paz de espírito. Enquanto houver manifestações, sejam organizadas por quem for, que mostrem o nosso descontentamento ao mundo, eu mantenho: é marcar presença. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

writer's block

Mas estou bem e feliz com a dimensão do que aconteceu dia 15 e dia 21. Dia 29 lá estarei, de joelho ao peito mas tem de ser. Porque não podemos deixar esmorecer este sentimento de união, nem nos podemos deixar assustar pela conversa assustada dos poderosos.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

o porquê da apatia

Hoje ao almoço falava-se mais uma vez sobre onde é que isto tudo vai parar e como é que as pessoas conseguem ficar tão apáticas perante o futuro negro que aí vem. Ou antes porque é que as pessoas andam apáticas. E esta é uma dúvida que tem inflamado muita gente pelas internets da vida.

A meu ver, por dois motivos: ignorância e individualismo. Para ilustrar o primeiro motivo, repare-se no caso recente do toureiro que investiu contra os manifestantes que estavam sentados, em protesto pacífico. Logo se alevantou um sem número de vozes, contra e a favor, escrevendo as mais odiosas palavras sobre o sucedido. E até ao vivo ouvi dizer da vontade que tinham em ir partir as pernas ao toureiro. 

Vemos que, no caso das touradas, a esmagadora maioria dos portugueses sabe mais ou menos onde é que se posiciona: gosta daquilo, ou não gosta daquilo. E consoante a facção, assim se insurgem os sentimentos e assim se chega (por vezes) à acção, seja por via de manifestações pacíficas ou de atropelamentos a cavalo.

Ora, no caso da Troika e da crise, as pessoas não sabem bem. Não percebem exactamente o que aconteceu, só sabem que há desemprego e que a vida está cara, mas não se interrogam sobre os verdadeiros motivos que levaram a isso. Os telejornais estão contaminados de mentiras e notícias difíceis de entender. Presume-se que "eles" têm razão nos cortes, porque nós, presumivelmente, estamos a dever dinheiro aos "outros". Não há conhecimento, logo não há sentimentos e muito menos há acção. 

Na verdade, e como ouvi dizer hoje ao almoço, enquanto houver praia e copos aos fins-de-semana, está tudo bem. Claro que a carteira começa a apertar e com a crise já não se pode comprar a roupa toda que se gostaria de ter, mas não faz mal, usa-se a mesma. Mas é o individualismo que move a minha geração, a procura do prazer imediato, em vez da capacidade para fazer sacrifícios e o incómodo, a trabalheira que seria tentar mudar um estado de coisas.

E pronto, aí estão os dois motivos.

sábado, 1 de setembro de 2012

teorias da conspiração

Os portugueses rezam pela benevolência da Troika, agora que as contas estão à vista de todos e que o resultado é escabroso: todas as medidas impostas pelo governo falharam e o défice continua altíssimo. A Troika pode ser benevolente connosco de várias maneiras, dizem os analistas e os porcos, anafados e suados dos dias quentes que se têm feito sentir: ou nos dão mais margem, em termos de prazo ou de diminuição do défice (temos mais tempo para o diminuir, ou não temos de o diminuir tanto), ou "dobram os seus próprios princípios", aceitando novas medidas extraordinárias (cortes no nosso lombo, a bem dizer) contra as quais se insurgiram no passado.

Ou seja, a Troika, "não gostou", dizem os porcos, dos cortes nos subsídios de Natal aos funcionários públicos. Não gostou. O absurdo começa logo por aqui, já que é extraordinário que uma entidade financeira tenha voto em matéria de governação de um país. Mas há algo tão ou mais preocupante que isso: rezamos pela sua benevolência e a sua benevolência pode vir sob a forma da aceitação de mais medidas de austeridade injustas. As tais, que eles "não gostaram". Ou seja, se forem bonzinhos, até deixam passar mais algumas.

Façamos um bocadinho de futurologia ou teoria da conspiração, como lhe queiram chamar, Imaginemos que "os perigosos de esquerda" (e eu) têm  razão quando dizem que tudo isto é uma manobra do capital financeiro para arruinar o Estado e abrir as portas ao investimento privado no nosso país, dando início a um rol de privatizações (que já começou) que garantirá o encaixe de milhões nos bolsos de um grupo restrito de pessoas, enquanto ao mesmo tempo escraviza os cidadãos à lei da oferta e da procura nos serviços mais básicos e essenciais. 

Ou seja, imaginem este cenário: o Estado está falido, não tem dinheiro para subsidiar mais a Saúde, a Educação, a Televisão Pública (rings a bell?), os CTT, os serviços de água, gás e electricidade, os Transportes...não há dinheiro, dizem os porcos, temos de privatizar. E aí se afiguram logo os grandes magnatas, prontos a comprar. E compram. Compram o negócio da Televisão Pública, compram a água, a luz, o gás. Compram o negócio dos centros de saúde e dos hospitais. Rentabilizam todos esses negócios, despedindo os funcionários obsoletos. E depois praticam os preços que quiserem. Mais ou menos o que vivemos com a gasolina, será (acredito eu) o que viveremos em áreas cruciais, como a Saúde ou a Educação. É o fim do Estado Social e o Liberalismo a exercer-se em pleno, as leis da oferta e da procura regulam tudo, tudo está bem (vê-se, com o caso dos combustíveis). 

Concluindo, os porcos querem fazer-nos acreditar que a Troika está a ser benevolente caso aceite dobrar os seus princípios e acolher mais medidas de austeridade injustas (e até inconstitucionais). Benevolente coisa nenhuma. Na verdade, a Troika estará, dissimuladamente, apenas a cumprir os seus objectivos: garantir que são impostas as medidas certas, as que levam o Estado à falência. Mais impostos, maior contracção na economia, maior défice. É esta a sequência lógica dos acontecimentos. Maior défice, Estado falido. Estado falido, e os cães podem vir comer. E será vê-los comer a nossa Saúde, a nossa Educação, o nosso direito à livre informação... todo o nosso Futuro.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

o triunfo dos porcos

As estruturas do nosso País estão podres, a água começa a entrar à séria, e as ratazanas estão a tentar sacar o máximo antes do naufrágio final. As notícias sobre a pseudo-privatização da RTP são mais uma prova disto, do salve-se quem puder entre os porcos engravatados que mandam no nosso País. Enquanto se atira areia para os olhos dos cidadãos, com cortes e medidas de austeridade (que não resultam e só contribuem para o afundanço geral), vão-se fazendo as privatizações necessárias para garantir que as fortunas vão parar aos bolsos das pessoas certas. Até o Parque das Nações já foi vendido ao desbarato!

Mas vejamos o negócio da RTP. Um negócio a 15 anos que, no decorrer desse tempo, dá o lucro aos privados: os ganhos com publicidade e os impostos que pagamos na nossa fatura de eletricidade passarão a ficar para eles. Só que ao mesmo tempo o negócio assegura que, findo esse período, o Estado se responsabilizará por possíveis dívidas que fiquem. 

Isto é o equivalente a dizer: olha eu criei aqui um parque de diversões, mas ficas a tomar conta. E durante esse tempo, o dinheiro que cobrares pelas entradas é todo para ti. No fim, se por acaso as coisas correrem mal, se deres cabo dos carroceis ou levares o parque à falência e contraíres dívidas, não te preocupes, que eu trato de tudo, eu responsabilizo-me por tudo. Pessoa simpática, o Estado, não? Otários.

Se eu tivesse de explicar as coisas como a uma criança de 4 anos, diria mesmo que estamos perante um ataque dos ricos contra os pobres. Os ricos querem garantir que ficam mesmo ricos até ao fim da sua vida, da dos seus filhos, netos e por aí fora. Eles querem é negócios baratos e lucrativos, em áreas essenciais, daquelas que os pobres precisam mesmo! Não importa que os pobres tenham de pagar mais para poder ir ao médico, para andar de autocarro, para comer pão ou para ver notícias que sejam verdade e programas que sejam educativos. Isso é secundário para os ricos. O que importa é que os pobres paguem aos ricos. Mais, mais e mais. 

E depois importa também que o dinheiro dos ricos fique salvaguardado pelo Estado. Sim, porque no caso da RTP pelo menos, não se trata aqui de privatizar nada. Trata-se de oferecer de bandeja um negócio aos "ricos", garantindo a intervenção do Estado se (ou quando) a coisa correr mal. Querem acabar com o Estado social, mas só para os pobres, porque os ricos o Estado deve continuar a proteger. 

Aliás, é como a questão da dívida "pública". Esse conceito só surgiu para garantir que os pobres pagam os lucros que os ricos contavam receber com o seu joguinho de Monopólio, antes de a coisa começar a dar seriamente para o torto. Não há dívida pública coisíssima nenhuma. Esse dinheiro foi inventado na cabeça dos ricos, provém de negócios virtuais (literalmente!), sem correspondência no mundo real. Mas o Estado, essa pessoa simpática, tem de garantir que eles não ficam a chupar no dedo. E assim organiza cortes e programas de austeridade para esmifrar os pobres, enquanto vende parques de diversões ao preço da chuva. Até porque assim tem emprego garantido depois do fim do mandato no Governo, provavelmente na própria administração de um dos parques que vendeu. 

E nós aqui. Otários. 


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

see no evil

Ver o Mal onde ele não existe é triste e demonstrativo de pouca inteligência. Castigar os outros pelo que só aconteceu na nossa cabeça, também. Ao mesmo tempo, esta tendência diz bastante sobre a natureza da pessoa que o faz. Mesquinha. Pequenina. Má. Usar os outros para dizer o que não somos capazes, já não chamaria de estupidez, mas triste também é, com certeza. Graças aos deuses pelo equilíbrio das coisas e pela natureza da retribuição. Pois tudo regressará a vós três vezes. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

como amar sem desaparecer da face da terra

(ou "o meu post mais longo de sempre")

Será Amor ou Dependência é um livro que complementa outro de que já vos tinha falado e ajuda-nos a compreender (e a assumir, se for esse o caso) que temos tendência para, ou que estamos numa relação de dependência amorosa. Podem olhar este post como uma espécie de "ficha de leitura", ou seja, não dispensa o original, mas já vos dá umas luzes sobre o assunto. Note-se que estes foram os pontos que eu retive, havendo muitos outros igualmente importantes a descobrir no livro.

Através da partilha de testemunhos de centenas de pessoas, este livro reúne as características básicas de uma relação de dependência amorosa e oferece pistas sobre como podemos transformá-la num amor saudável.

Não deve ser vergonha admitir que se tem uma relação de dependência amorosa - sim, funciona como o alcoolismo ou como o vício da droga - mas também não devemos rotular nada demasiado cedo. Às vezes as coisas não funcionam porque não encaixam e ponto final, não há que "psicologizar" tudo.

O que é a dependência amorosa

Viver uma relação de dependência não é saudável e na maioria das pessoas fará disparar uma série de alarmes que nos indicam que algo não está bem. Mas noutros casos, estes alarmes não disparam. E o dependente vai progressivamente agachar-se até estar com a coluna paralela ao chão, sempre de forma a agradar o co-dependente e evitar o abandono. Nessa altura, ou uma qualquer réstia de amor-próprio lhe abre os olhos e a relação muda (ou termina); ou a pessoa habitua a coluna a essa posição, mentindo a si própria sobre o que se está a passar. Estes últimos casos podem ter consequências graves, nomeadamente situações de violência ou até o suicídio.

Deixo-vos com um resumo de "sintomas" deste fenómeno e ainda algumas técnicas para transformar a relação numa de não-dependência. Sim, porque não é necessário que os dependentes se afastem. Contudo, às vezes isto é inevitável, nomeadamente se um se começar a tratar e o outro não, pois dificilmente saberá  lidar com o seu novo parceiro, já saudável. Mas se isso acontecer será de forma muito natural (para quem se tratou) e sem dor, pois entretanto está curado e descobre um novo rumo para a sua vida: a sua própria Pessoa.

"Sintomas"

Todas as relações amorosas têm um certo grau de dependência. O preocupante é quando as coisas começam a assumir uma dimensão que esmaga um dos parceiros. Assim, são "dependentes de relacionamentos" ou encontram-se mesmo a viver uma relação de dependência, as pessoas que (entre muitos outros fatores) por exemplo:
  • Não consideram que tenham grande valor próprio nem interesse enquanto Pessoas e por esse motivo precisam de alguém para dar sentido/uma razão à sua vida;
  • Saltitam de relação em relação sem grande critério e por vezes partem para outra sem terminar a anterior, para evitar momentos de solidão;
  • Têm forte apetência por parceiros emocionalmente indisponíveis, de forma a prolongar a adrenalina da "luta" e evitar os momentos de paz que lhes permitiriam olhar para os seus próprios problemas;
  • Não gostam de estar solteiros, nem mesmo sozinhos durante muito tempo, pois não sabem o que fazer consigo próprios;
  • São mal-tratados pelo parceiro, mas acreditam que se o amarem o suficiente as coisas podem melhorar, alterando comportamentos pessoais para o agradar ou simplesmente para evitar problemas;
  • Já não suportam a vida com o parceiro, mas sentem que não saberiam viver sem ele;
  • Acreditam que seriam felizes se o parceiro mudasse alguns aspectos em si, nomeadamente a forma como os trata. Ou seja, depositam a chave para a sua própria felicidade no outro e não assumem a responsabilidade sobre a sua vida.
  • Usam os jogos de poder, chantagem emocional e manipulação para tentar mudar o outro, em vez de se focarem naquilo que podem controlar e mudar: a sua própria vida, as atividades que fazem no dia-a-dia, as experiências que escolhem ter e as aprendizagens que escolhem fazer.

Go cold turkey

Para quebrar o ciclo de dependência e começar a construir relações saudáveis, aqui ficam alguns passos que retive das minhas leituras (não só deste livro). Ao começar a mudar por si só, o parceiro vai ver-se obrigado a mudar também, a adaptar-se. Caso contrário, a separação será inevitável, natural e até um grande alívio.
  • Investir imenso em si próprio. Começar a passar mais tempo sozinho e descobrir-se: o que gosta, o que não gosta, o que lhe interessa, em que é talentoso, o que pode aprender, etc. Até porque numa relação, os parceiros devem complementar-se. E se não tiver nada para oferecer, limitando-se a assimilar o outro, ele acabará por fartar-se. Ninguém quer uma fotocópia de si próprio ao seu lado.
  • Recuperar velhas amizades, passar tempo com pessoas diferentes, rodear-se do que lhe faz bem. Ter tempo para mais, na vida, do que apenas para o seu parceiro e a sua família. 
  • Aceitar o outro tal como ele é, não tentar mudá-lo, ensiná-lo, corrigi-lo nem ajudá-lo. Em nada. Isto é fundamental. Se tal aceitação do outro não for possível, é porque não existe amor saudável suficiente para manter a relação e porque estamos apaixonados por algo que não existe na realidade, por um "potencial de pessoa", por aquela pessoa em que esta se poderia tornar.
  • Parar com os jogos de poder. Não assumir o papel de vítima para atingir objectivos, nem o de dominante  para o tentar "dobrar" (pois o co-dependente irá pôr-se a jeito para se fazer de vítima e, então, manipulá-lo). Parar de competir. Dizer o que sente sem criticar nem julgar o outro. Isto é muito importante, pois a mínima crítica leva o co-dependente a fazer-se de vítima e o dependente fica desarmado.
  • Descomplicar e desdramatizar as situações, pois a adrenalina só leva a uma coisa: problemas nervosos. Resumindo: don't sweat the small stuff. 
  • Compreender que o outro nunca o vai amar incondicionalmente. Nunca. Isso cabe-lhe a si próprio fazer. Se tal for muito difícil, aí sim, procure ajuda psicológica.

E... basicamente é isto. Espero ter ajudado. Aqui deixo o meu "obrigadinho" à senhora Brenda Shaeffer. E agora vão lá congelar o vosso peru.



sexta-feira, 13 de julho de 2012

o poder do quarto poder

O caso Relvas serve, não só para nos indignarmos com a corja desprovida de valores éticos que povoa o atual Governo, mas também para fazer uma pequena reflexão sobre o quarto poder. 

Relvas exerceu pressões ilícitas sobre uma jornalista do Público. O caso foi empurrado para debaixo do tapete no Parlamento e depois pelo poder Judicial (se é que podemos usar esta designação perante uma entidade tão inútil como a ERC); de Cavaco Silva nem um pio. Relvas safou-se do incidente sem consequências, mantendo o tacho, e até com energia reforçada para fazer o que lhe der na real gana, pois confirmou que era intocável.

Um a um, os três poderes calaram-se perante o caso, ou (pior) apoiaram Relvas. Já com o quarto (e aqui lesado) não foi bem assim.

Iniciou-se uma verdadeira perseguição a Relvas, com denúncias de irregularidades, esquemas e troca de favores que criaram um escândalo em torno deste senhor. Um escândalo em torno de um assunto até relativamente insignificante (ou neste País, nem tanto): a validade do seu canudo. De repente, o intocável que não se viu a braços com a Justiça, viu-se apanhado pelo polvo do quarto poder... e que polvo.

Penso que se podem retirar duas conclusões importantes deste caso. A primeira é que os poderes Judicial, Legislativo e Executivo estão moribundos em Portugal: não funcionam e não têm crédito. A segunda é que o quarto poder, o poder dos media, está vivo e recomenda-se. Nunca uma classe se organizou tão bem para vingar um dos seus e nunca foi tão fácil pegar num assunto corriqueiro e dar-lhe a força suficiente para arruinar a reputação de um homem. Porque independentemente do que lhe aconteça, fica mal visto o resto da vida. Ele, os amigos dele e a família dele, porque as coisas neste País funcionam assim.

Relvas tornou-se um alvo a abater. E ainda estamos para ver se não será abatido: se se demitir ou for afastado pelo Governo, não podemos propriamente dizer que se fez justiça, nem que a moral e ética do nosso País afinal ainda povoam os corredores do Parlamento. Não, essa já se perdeu comprovadamente há muito tempo. Poderemos dizer, sim, que estamos perante uma vitória dos media e que o quarto poder está, de facto, poderosíssimo.

Não se entende portanto, que uma classe com esta capacidade não se una, numa ação concertada e patriótica, e faça um bocadinho o trabalho que outros se recusam a fazer: descobrir os verdadeiros responsáveis pelo buraco financeiro e obrigá-los, por via da escandaleira, a enfrentar a Justiça. A responsabilidade dos media é denunciar, esse sim é o verdadeiro, honorável, valioso Jornalismo. Mostraram que tinham força para isso quando a injustiça lhes bateu à porta? Então usem essa mesma força para o bem de todos nós.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

mariquices

Às vezes as pessoas magoam-nos. Umas vezes sem querer, outras de propósito e noutras mesmo sabendo que estamos particularmente frágeis e que os efeitos serão... graves. Sejam os amigos, os namorados ou os pais. Seja porque nos ignoram, porque não nos respeitam, não nos compreendem ou não nos levam a sério. 

Há coisas maiores e coisas quase insignificantes (para quem inflige a dor). E às vezes nem temos razão lógica que nos diga que essas pessoas não o deveriam ter feito, porque até fizemos alguma coisa que o justificasse: ou seja, merecemo-lo de alguma forma. Mas não é com razões lógicas que a coisa vai ao sítio, a dor continua lá.

O que fazer nessas alturas? A tendência é para pôr o sentimento para trás das costas. De alguma forma, não pensando muito nisso, o sentimento dissipa-se e desaparece ao fim de algum tempo. Mas isso é o caminho certo para o ressentimento. E mal damos por nós, esse mesmo sentimento, que pensavamos ter posto para trás das costas, inunda-nos como uma onda.

Hoje disseram-me que é importante acarinhar esses sentimentos negativos. E é verdade. Quando somos crianças, não temos ferramentas para fazê-lo, logo, esse papel cabe aos nossos pais. São eles que nos devem ajudar a lidar com as frustrações, desilusões, fracassos, medos e raivas. São eles que nos devem colo, emocional e literalmente. 

Mas os pais não nascem ensinados e muitas vezes nem lhes passa pela cabeça o que isso é. Ou não compreendem a dimensão da coisa. Especialmente se forem pais que não prestam muita atenção aos seus próprios sentimentos, não os valorizam muito ou (pior ainda) acham que isso são mariquices. Lá está, foram "ensinados" assim. 

Quando crescemos, os pais já não nos devem colo, mas devemo-lo a nós próprios. O problema é que às vezes não sabemos bem como fazê-lo na idade adulta. Já não podemos ir a correr para o colo da mãe a chorar baba e ranho. A ideia de que de repente atingimos a idade adulta e temos de saber lidar com os desaires da vida de cabeça erguida, cheios de força, ou então com a indiferença suficiente para os "ultrapassar" o mais depressa possível é, na minha opinião, um dos maiores enganos da nossa era. E por isso é que os consultórios de psicologia/psicoterapia/psicanálise estão cheios. Cheios de pessoas que em primeiro lugar, não se permitem sofrer. Sofrem mas não o aceitam e como nem o aceitam, não conseguem ficar bem.

Por isso é que é importante darmo-nos colo quando nos magoam. Compreender que temos o direito de nos sentir assim, que somos humanos e como tal temos um espectro de sentimentos enorme e não cabe a ninguém dizer-nos "caga nisso pah!"... Acreditem, com a dor dos outros pode-se muitíssimo bem. 

Se alguma coisa vos ofende, dói ou enerva, olhem para isso tudo. Sintam-no. Racionalizem o quanto baste (compreendam porque se sentem assim), mas acima de tudo permitam-se sentir-se assim. Ninguém morre nem é "um fraco" por estar a sofrer durante um período de tempo. 

E então, como se fossem os pais de uma criança que foi de queixo ao chão, mimem-se de alguma forma e durante o tempo suficiente para ficarem melhor. Seja com idas ao ginásio (para alguns isto não é bem mimo, mas pronto), filmes no cinema, um gelado monumental, ou passeios num sítio que gostem... E não é "vou fazer uma massagem, que isto passa", é "vou à massagem porque me sinto mal, sinto-me péssimo, agora, e quero cuidar de mim para me sentir melhor".

Os sentimentos acabam, então, por dissipar-se. Mas ficam melhor resolvidos. Passar esta ideia aos vossos filhos, se os tiverem, não será mal pensado.

terça-feira, 3 de julho de 2012

amigos rotativos

in Diário de Kat von D

A propósito desta imagem e dos tempos que hoje vivemos... Uma amiga minha chamou-me a atenção para isto, de que há pessoas que têm "amigos rotativos" e não há muito a fazer em relação a isso. Na verdade não são amizades verdadeiras, estas. São apenas companhias de copos, ou ombros descartáveis em que podem chorar enquanto precisam. Quantos de nós não passámos por este carrossel? Tal como os "amigos coloridos", a expressão "amigos rotativos" podia figurar no nosso dicionário. Mal não faria. Mais uma voltinha, mais uma viagem...


terça-feira, 26 de junho de 2012

o futuro esquecido

Recentemente vi um artigo num jornal inglês em que o "jornalista" se indignava muito com a presença frequente de pessoas muito tatuadas, mais especificamente mulheres, no Royal Ascot (ao que parece, um evento chique de corridas de cavalos em Inglaterra). O autor do texto perguntava-se sobre como iriam estas mulheres viver no futuro, quando as tatuagens deixassem de ser cool, ou quando se apercebessem do "erro terrível" que tinham cometido na juventude.

Independentemente do que eu possa achar da opinião do jornalista, isto pôs-me a pensar no futuro. Não é só pelas tatuagens, mas na vida em geral, as pessoas da minha idade não pensam muito no futuro. Falo também por mim. E isso é que seria digno de um artigo, não uma opinião mesquinha de alguém que não vive bem com a estética dos outros (viverá bem com a sua?).

Não pensamos no futuro nem fazemos planos a longo prazo. O "viver junto", o casamento, os filhos são mais "coisas que acontecem" do que propriamente grandes planos de infância que se alcançaram com luta e esforço. As coisas não são tão planeadas como aqui há uns anos atrás, o futuro é esquecido. Porquê?

Alguns pais torturam-se com dúvidas e preocupações sobre quando será que o filho vai casar, ou a filha irá finalmente ter filhos. Talvez porque "no seu tempo" as coisas não fossem bem como agora. Vivemos uma época de instabilidade atroz, como eles também viveram (embora noutras circunstâncias, talvez ainda mais graves), mas com uma diferença: não há esperança. 

Já se sobreviveu à ditadura, os tempos de felicidade e fartura já chegaram - são estes, os que se vivem agora. Este era o sonho que os nossos pais tinham quando, aos vinte e poucos anos, adiavam a decisão de ter filhos para "depois da ditadura". O depois da ditadura chegou (e ainda bem), mas entretanto as coisas não correram bem. E agora o futuro é novamente negro, com a agravante de termos em cima mais uma desilusão, o "fracasso" de Abril.

Concluindo, as tatuagens, alterações permanentes do corpo, têm um valor e um peso diferente nas mentes dos jovens/jovens-adultos dos dias de hoje. Porque o amanhã é uma incógnita total. Não é apenas a ideia de podermos levar com um camião na manhã seguinte, mas é uma incerteza generalizada em relação ao futuro: não sabemos se vamos estar vivos, ter emprego, reformas, comida, metade do conforto de agora... por isso toca a viver o hoje. Hoje somos imortais, porque o amanhã não existe.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

all is well when it ends well

Anos depois, amizades reencontradas e restabelecidas fazem as delícias do ano de todas as promessas. E depois de enchorradas de chuva, lama (metaforicamente e não tanto), frio... sabe bem levar com este clima ameno e ver que estamos rodeados de tudo e apenas do que nos faz bem. 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

o que faz uma boa pessoa?

Em fases difíceis, como a que o nosso país atravessa, é especialmente comum ouvirmos o discurso da impotência. O "não adianta fazer nada" serve para desresponsabilizar aqueles que o usam e justificar que se demitam de qualquer papel interventivo na sociedade. Mas conforme li hoje aqui, é importante focarmo-nos no que realmente podemos fazer. Porque podemos fazer qualquer coisa: o truque é não querer dar um passo maior que a perna e perder logo o ânimo, mas começar pelas coisas pequenas, como por exemplo, começar por tentar ser uma melhor pessoa.

E isto não é tão simples como parece. Ser uma boa pessoa é tarefa complicada, principalmente se não nos rodearmos dos exemplos certos... é fácil dar umas escorregadelas de vez em quando. Mas estive a pensar no que podia fazer para me manter no caminho certo e, resumindo, trata-se de:
  • manter o respeito pelos outros e pela Natureza
  • dizer a Verdade
  • ajudar, sempre que nos for possível
  • ter uma visão otimista da realidade e tentar ver o outro lado em questões que nos pareçam negativas à partida
  • evitar conversas, ambientes e pessoas "pesadas", que gostem da intriga e da discórdia
  • distinguir os verdadeiros amigos daqueles que só precisam de alguma coisa
  • apreciar a nossa Vida e não fazer comparações com a dos outros
  • ter respeito e amor por nós próprios, pelas nossas particularidades
  • manter um conjunto de princípios éticos no trato com os outros
  • cultivar a nossa individualidade e partilhar com os outros aquilo que nos pareça de valor (daí este post).
Parece-me que se toda a gente, individualmente, fizesse a sua listinha de como podiam ser "boas pessoas", o mundo mudaria automaticamente para melhor, não? Talvez não esteja na nossa natureza sermos "bons" (acredito mesmo que não esteja), mas fazer esse esforço traria os seus frutos.

Numa nota mais pessoal, ando a passar por uma fase de misantropia terrível, provocada por várias desilusões com "amigas". Mas em vez de duvidar do mundo e de odiar o mundo, realmente o melhor é começar a emanar luz e rodear-me de luz. E vocês, o que poderiam fazer para tornar-se mais luminosos? Pensem nisso.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

autocensura



Well I guess I just did. Este post fica só para quem viu o anterior. Porque a autocensura e a sensatez às vezes  andam de mãos dadas.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

chinternacional

O meu blogue internacionalizou-se... a ver se o chinfrim chega ao outro lado do oceano. Está aqui. Se encontrarem alguma calinada no inglês avisem.


And in case I don't see ya, good afternoon, good evening and good night!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

o terror da esquerda

Há tempos escrevi sobre a falta que nos faz uma Esquerda mais unida em Portugal, sobre como o Partido Comunista está preso a dogmas antigos e o Bloco de Esquerda se recusa a aproximar-se dele, criando uma cisão que dificulta a luta por uma sociedade mais justa e igualitária. A juntar a estas dificuldades, ultimamente tenho assistido, perante tanta convulsão social e tanta discussão online, a um autêntico terror da Esquerda. E a uma verdadeira guerra entre Esquerda e Direita, mesmo nos assuntos mais prosaicos. 

Por todo o lado saltam comentadores furiosos contra a "gentalha de esquerda" que "não quer trabalhar", recordando com horror os tempos da União Soviética mal ouvem palavras bonitas, de esperança como "fraternidade", "justiça social" ou "distribuição de riqueza". Se alguém fala em fraternidade, deve ser da maçonaria (que, de repente, se juntou ao rol de odiados pelos portugueses), se falam em "justiça social" são socialistas, tipo Mário Soares, cambada de chupistas que vive para o "tacho"; e, credo, se mencionam a "distribuição de riqueza" então, são perigosos comunistas, alvos a abater.

Por isso pensei em abolir deste blogue (e do meu discurso político em geral) palavras como "capital", "classes", "trabalhadores" ("operários" então, deus me livre), e coisas que tais, que possam servir para me rotularem imediatamente de "comuna", pois nessa altura metade dos meus interlocutores desliga e passa à estratégia do "não estou a ouvir porque podes ter razão e eu não quero". 

Acredito que a nomenclatura devia ser alterada, porque a de agora só serve para confundir e fazer disparar alarmes nas cabeças das pessoas, impossibilitando qualquer diálogo razoável. Por isso li e assinei o Manifesto Para Uma Esquerda Livre com dois sentimentos: primeiro, identifiquei-me com os valores descritos e com algumas das pessoas que os escreveram; mas depois tive medo. Medo que a bandeira da Esquerda seja suficiente para que muita gente lhe vire a cara. Medo que as pessoas não consigam ver para lá do ódio que têm em relação a fracassos do passado. Sim, as ditaduras de extrema esquerda existiram e não podem nunca ser esquecidas, mas acreditam mesmo que a Esquerda atualmente tem esses desígnios na manga? As ideologias, tal como as pessoas, evoluem, mudam, não são estanques. 

Falar-se em partidos ou ideologias de Esquerda já não devia ser sinal de alarme, principalmente quando as políticas de Direita estão bem à vista de todos... quanto a essas não há dúvida nem esperança possível: são o que são. Já quanto à implementação de verdadeiras medidas de Esquerda, como a medida "populista" (saltaram logo os comentadores) de Hollande ao reduzir os salários do Governo, há. Há dúvidas sim... mas ainda há esperança. Assinam?

segunda-feira, 7 de maio de 2012

a saga pingo doce

Eu tinha prometido não escrever sobre isto, mas... não dá. Deixo a minha opinião para quem continua a achar que a campanha não teve nada de mal, ou que até foi muito bem conseguida e um verdadeiro presente para todos os portugueses dado por esta grande instituição de caridade que é o grupo Jerónimo Martins.

A notícia hoje, de que os trabalhadores serão remunerados em 500% pelo dia 1 de Maio, foi a gota de água para mim. As pessoas infelizmente não conseguem ver além do seu próprio umbigo, só assim se explica não se indignarem com esta forma de manipulação. 

Os trabalhadores receberam 500%, e ainda bem, mas isso não anula a pressão exercida (por este Grupo e não só) sobre os produtores nacionais, para venderem cada vez mais barato aos distribuidores chupistas. Não anula o facto de o Pingo Doce pagar os seus impostos na Holanda, cuspindo na cara de quem o alimenta (os portugueses). E não anula o facto de ter escolhido este dia em particular para realizar a grande campanha.

Porque, repare-se, mesmo que a escolha do dia não tenha sido propositada, pareceu um ataque (disfarçado, é certo) das grandes fortunas contra os trabalhadores e contra o seu direito de se manifestar. Pareceu um "vocês trabalham quando eu quero, porque pago-vos 5 vezes o vosso ordenado miserável, julgam que saíram beneficiados mas eu ainda fico a ganhar". Pareceu um "neste dia simbólico para todos os trabalhadores portugueses, e que pode servir para vos lembrar das condições que merecem e não têm, eu vou encher os supermercados e celebrar o consumismo alarve". 

Acentuei pareceu porque, obviamente, ninguém pode apontar o dedo com certezas absolutas à Jerónimo Martins (ainda para mais perante medidas tão "boazinhas" como o salário a quintuplicar). Mas nos tempos que correm, como alguém me ensinou e muito bem, já não basta ser, é preciso também parecer! Ou seja, o Pingo Doce tinha obrigação de saber ao que vinha. As possíveis implicações deviam (se não foram) ter sido pensadas lá pelos grandes estrategas que magicaram a campanha. E isso sim é criticável. Porque para muita gente, como eu, a dúvida, a possibilidade de manipulação, a hipótese remota de isto ser uma forma de promiscuidade entre interesses económicos e políticos disfarçada de caridadezinha, é mais que suficiente para nunca mais lá pôr as patas.

Resumindo, o Pingo Doce com 500%, de uma só penada, cala as vozes contestatárias, mostra-se muito filantropo e amigo dos portugueses e tapa os olhos a quem não consegue nem está interessado em ver além do seu micro-universo. 

O que fizeram foi bom, sim, foi bom para uma minoria: os que usufruíram dos descontos e os trabalhadores do supermercado, que são, pelo que leio, bem tratados. Mas foi mau, muito mau, para todos os outros portugueses: para os de esquerda, para os de direita, para a economia do país e para o futuro de todos, incluindo daqueles que agora se julgam muito beneficiados. É tudo uma questão de ver o filme todo e não só o seu universo pessoal; de ver o amanhã e não só o aqui e agora. Got it?

quarta-feira, 2 de maio de 2012

dead social

Li hoje acerca de uma nova rede social, a Dead Social, que permite agendar mensagens de forma a que sejam publicadas no nosso perfil do Facebook depois de morrermos. Para que nada fique por dizer! podia ser o slogan da coisa Uma ferramenta genial, para alguns, mas que levanta uma série de questões éticas... vejamos.

Em primeiro lugar, se a plataforma for usada para fins menos simpáticos, nem imagino a quantidade de traumas que pode vir a suscitar. Por exemplo, não seria agradável à Julieta ver uma mensagem póstuma de Romeu que dissesse "Nunca te amei, és uma chata e só andava contigo pelo dinheiro dos Capulet." Ou "A tua irmã é muito boa", ou "Fui eu que matei o teu piriquito", ou coisas igualmente escabrosas. Quero com isto dizer que há segredos que devem mesmo ir connosco para a campa... e de repente ter a possibilidade de libertar o caos na vida dos que cá ficam, sem ter de lidar com as consequências e à distância de uns quantos cliques, parece-me... errado.

Depois, temos a tão frequente questão do roubo de identidade. Ora imagine-se que a Maria Joaquina morria e tinha deixado preparada uma mensagem de amor para os seus netos. Mas ignorava o facto de que a sua rival, Maria Antónia, já tinha conseguido aceder à sua conta e alterado o texto para uma série de barbaridades... Nada bonito.

E ainda há a questão da garantia de satisfação do serviço. Quem nos pode garantir que a mensagem será, de facto, entregue e em boas condições, se o autor da mesma já não está entre nós? Segundo o que li, o site permitirá aos familiares/amigos do falecido "desbloquear" as mensagens, depois da sua morte. Mas... quem nos garante que foi mesmo aquilo que ele escreveu? E se alguém se lembra de desbloquear a coisa antes do tempo e gera o pânico entre os que desconhecem o erro?

Enfim, toda a ideia me parece grotesca, macabra, mas também é verdade que pode ser uma forma interessante de nos eternizarmos. Ou não. Não sei, o que acham?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

desprezar abril

Tenho tendência para me enervar no 25 de abril. Uma parte de mim é muito intolerante e não lida nada bem com opiniões que não valorizam esta data tanto quanto eu. Ou é porque está de chuva, ou porque não adianta nada, ou porque foram sair na noite anterior, ou porque (pior ainda, e mais no caso dos mais novos) já nem sabem bem o que se está a comemorar. Todos estes servem de motivos válidos, talvez, porque cada um sabe de si ou desculpas para não pôr os pés na Avenida da Liberdade nesta data (e em nenhuma outra, diga-se em abono da verdade).

A celebração do 25 de abril é importante para mim. Pelo seu valor histórico, por todo o sofrimento de que nos libertou e, talvez ainda mais importante que tudo isto, porque é uma data de contestação, que pode e deve ser aproveitada para mostrar aos governos de agora aquilo de que não gostamos. Porque, lá está, já temos liberdade para isso. Por este último motivo, considerei especialmente importante marcar presença hoje

A esmagadora maioria dos meus amigos não foi. Da minha idade, que eu conheça, contam-se pelos dedos de uma mão aqueles que sei que têm consciência política sem estarem diretamente envolvidos em partidos ou em movimentos desta ou daquela ideologia. 

Mais grave do que não participar nestas comemorações, porque isso pronto, já fica ao critério de cada um, é mesmo o desconhecimento e desinteresse geral por tudo o que seja ligeiramente "macro", que se afaste da sua realidade pessoal, do seu círculo de amigos ou família e das suas preocupações mesquinhas do dia-a-dia.  E depois também há aqueles que mascaram esse desconhecimento total com uma ou outra partilha de cariz mais "ativista" nas redes sociais, para que o seu perfil não pareça (tanto) um rol de inutilidades.

Dou muita importância ao 25 de abril. Não sou comunista. Não me considero "do contra", como já me fizeram sentir algumas vezes. Mas há coisas à minha volta que não consigo aceitar... chamem-me reacionária.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

da fuk u talkin bout?!

O ministro das Finanças foi aos Estados Unidos falar com os senhores grandes e, entre as duas ou três coisas acertadas que possa ter dito, resolveu dar-lhes um conselho não solicitado e idiota: não façam como nós, Portugal (leia-se o Governo de Sócrates e as suas políticas "expansionistas") é  um exemplo daquilo que não se deve fazer.

O ministro esperava destacar-se, portanto, do péssimo trabalho do seu antecessor, dar uma de espertalhão vulgo armar-se em bom, numa esperança vã de provocar nos senhores grandes um sentimento de alívio ou até de admiração. Alívio e admiração por estarem na presença deste sr. ministro e não do anterior, alívio porque este é competentíssimo e compreende bem as funções para as quais foi eleito - servir o capital cof cof povo Português.

É o discurso de sempre, aquele que todos (antes de serem eleitos) dizem que não vão ter e ao qual (depois de serem eleitos) não conseguem fugir: a velha história da culpa. Ai.. a culpa... Porque foi o outro e o anterior e o antes desse e vocês nem fazem ideia de como "as coisas" estavam quando lhes pegámos. Porque nós somos super eficientes, eficazes, produtivos e inovadores, mas apesar da nossa competência extrema e inigualável, é impossível trabalhar, não há condições, porque os anteriores e os antes desses fizeram tudo mal, mas só os que não eram "dos nossos" claro.

Tenho pena que um dos senhores grandes não se tenha virado para o senhor ministro das Finanças e lhe tenha perguntado uma coisa simples: "So what?". Foi algo que me ensinaram a perguntar aos artigos que escrevia, quando escrevia, para saber se tinham relevância, e realmente a este senhor ministro fazia-lhe muita falta. Ah e tal o governo anterior era uma desgraça. So what? Ah mas eles fizeram coiso. Who cares? Ah mas a culpa é toda deles. Who gives a shit?!... Porque, sejamos realistas, who gives a shit?

Enquanto os senhores ministros não pararem (de vez!) com o jogo d'a culpa é do outro, não estão concentrados a 100% naquilo que tem de ser feito para mudar "as coisas". E se esperavam que "as coisas" já estivessem mudadas quando se candidataram, azar. Tivessem pensado duas vezes. 

Candidataram-se? Agora governem-se, como um dia acreditaram piamente ser capazes de fazer. And stop the whining!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

ditadura capitalista

O que vou aqui constatar deve ser óbvio para muita gente, mas como já disse não se pretende aqui descobrir a pólvora, apenas relembrar-vos de que ela existe. Acontece que ontem à noite não conseguia dormir de tanto pensar (não conseguir dormir a pensar na "crise" é muito bom... mas acredito que não esteja sozinha nisto) e estive quase para me levantar e ir escrever, porque até me sentia bastante mais eloquente do que agora. Mas enfim, uma pessoa ainda tem de acordar cedo para ir trabalhar graças a deus.

Acredito que vivemos um momento histórico em Portugal, embora isso só se comece a perceber de forma totalmente clara agora. Há coisa de um ano atrás, com a entrada da Troika em ação, deu-se o início de uma ditadura capitalista no nosso país. Mas desta vez, não temos um líder carismático/histérico defensor da "raça" ou dos "bons costumes". E também não temos um Estado que quer engordar, enriquecendo os governantes sob o pretexto de salvar a classe operária. Temos, sim, uma instituição poderosa, de líderes mais ou menos anónimos que querem emagrecer o Estado ao máximo e encher os bolsos, com pressões mais ou menos óbvias sobre o Governo e, em consequência, sobre todos nós. 

Tal e qual como na Alemanha dos anos 30, Portugal estava sedento de um "salvador" (por momentos pensou-se que seria Cavaco Silva LOL) que nos retirasse firmemente (e miraculosamente de preferência) da "cauda da Europa". Fomos então levados a acreditar que vivemos acima das nossas possibilidades durante anos e anos e, como tal, não havia outra hipótese senão pagar, acrescidos de juros exorbitantes, os empréstimos que nos concederam. E dissemos que sim. Mea culpa, mea culpa, mea culpa, nós pagamos.

Sob o pretexto de sermos todos cidadãos europeus honestos que pagam aquilo que devem, o Governo tem vindo a anunciar medidas assustadoras, ao ritmo de uma por dia. Doses controladas de veneno, que o povo possa engolir espaçadamente sem sentir grandes efeitos. Mas na verdade estamos entregues aos chulos, aos agiotas e aos falsos profetas. Já não vivemos em democracia há alguns meses, as decisões não são tomadas pelos governantes a favor do seu povo, mas pelos poderosos a favor do capital (leia-se do capital deles). A favor da desigualdade, do egoísmo, do salve-se quem puder, numa "seleção natural" que  envergonha Darwin, porque agora se rege pela cunha ou pelo berço.

Não sei se os membros do Governo se apercebem, provavelmente sim, não fossem eles os grandes protagonistas desta situação, mas a verdade é esta e temos direito ao pacote completo: medidas de austeridade que nos impedem os movimentos e nos atrasam o desenvolvimento em mais de 10 anos, controlo de informação (ou mesmo censura) e até polícia política.

A democracia acabou, vivemos uma ditadura. É bom que comecemos a tomar consciência disto.

terça-feira, 10 de abril de 2012

conversas sobre a morte


Depois de ver este vídeo, fiquei a pensar na importância de termos uma conversa séria mas não demasiado, sobre essa realidade que nos parece sempre tão distante, mas que na verdade pode estar ao virar da esquina. Para a maioria das pessoas, a morte é um tema deprimente, que mete medo ou tem uma aura mágica qualquer - quase parece que se falarmos muito nela, algo de terrível pode acontecer. Eu própria vou ali bater na madeira três vezes quando acabar de escrever isto.

Mas realmente faz sentido falar sobre isso e decidir, dentro do possível, como se quer morrer - ou como se quer passar os últimos momentos de vida. Isto porque, e como podem ver no vídeo, a morte tem essa coisa chata de traumatizar um bocado aqueles que cá ficam. 

Portanto, falar da nossa própria morte não será um assunto que nos importe muito a nós, mas pode importar imenso para os outros. É uma forma de libertar os que cá ficam do peso da indecisão relativa ao que fazer nessa altura, ou de possíveis traumas relativos a uma morte menos boa. Até porque cada vez mais prolongamos a vida (leia-se a velhice) e pode ser importante (aqui sim, também para nós) decidir se queremos ir de queixo erguido ou já de fralda.

Antigamente ter uma "boa morte" era ir em batalha, rodeado de companheiros de glória, depois de grandes feitos. Talvez ande a ver filmes a mais, mas é essa a ideia que tenho. Pergunto-me como seria uma "boa morte" para as mulheres, mas acho que esse conceito não deve ter evoluído muito com o passar dos tempos... ir deitada e sem grande alarido, já me parece espetacular. Até porque depois levantamo-nos e tomamos o tal pequeno-almoço fabuloso de que vos falei aqui. Faz sentido.

E para vocês, como seria uma "boa morte", ou mais propriamente, como seriam uns "aceitáveizinhos vá, últimos momentos em vida"?

segunda-feira, 9 de abril de 2012

fake del rey?


Falemos da muy recente estrela de pop alternativo (ou o que lhe queiram chamar), Lana del Rey. Está envolta em polémica por anteriormente se ter apresentado sob o nome Lizzy Grant e, devido ao fracasso do "pacote", se ter reapresentado depois, já como Lana e com novo visual pós-cirurgias-plásticas, esse sim, muito apelativo.

Sentindo-se ultrajados, os fãs da "falecida" Lizzy Grant, que pelos vistos se evaporou da mediaesfera na expectativa de ser esquecida, afirmam que Lana é uma fabricação, um produto de mercado, pensado e calculado para pressionar todos os botões certos e gerar milhões. Cara angelical, corpo pecaminoso, numa mistura de white-trash-trailer-park com musa glamourosa dos anos 50 - foi o que bastou para que o público se rendesse a esta "nova" cara e voz. 

Antes vista como uma cantora melancólica, talvez com demasiadas metáforas para um público pouco fã de interpretações difíceis, Lana expressa agora as mesmas metáforas em videoclips bem construídos (geniais, por sinal), que tornam tudo muito mais fácil de entender e muito mais vendável. 

Mas o que me levou mesmo a escrever este post foi o facto de ter lido, num outro blog que sigo, o seguinte: "Algumas pessoas dizem que sua imagem foi criada para ter sucesso, mas honestamente não importa se é real ou não.". Não importa se é real ou não? 

Eu, confesso, sou fã de Lana del Rey. De Lizzy Grant também, ouvi a maioria das suas músicas no YouTube e considero-as (naturalmente) ao mesmo nível das de Lana. Algumas até com uma profundidade que me tocou de forma mais especial. Mas faz-me confusão esta sua transformação. Concordo que é uma fabricação, ou pelo menos parece (a rapariga pode simplesmente ter achado que o look antigo já não dava com nada e ter decidido mudar, a título pessoal, sem implicações comerciais).

Mas nos tempos que correm, esta frase assustou-me um bocadinho. Não importa se é real ou não? Então o que é que importa neste mundo? Estaremos nós assim tão desligados da realidade? É o derradeiro engana-me que eu gosto? Manipulem-me que eu gosto? Alimentem-me de mentiras que eu gosto? No tempo em que ouvia as Spice Girls, isso ainda era aceitável - tínhamos 10 ou 12 anos, queríamos lá saber se as estrelas que adorávamos eram uma fabricação, pensada especialmente para que todas as rapariguinhas se pudessem identificar com uma das 5 cantoras - a desportista, a inocente, a selvagem, a chique ou a provocante... 

Agora, aos 20 e muitos, e tendo em conta o público-alvo de Lana del Rey... não são rapariguinhas de 12 anos de certeza... ou serão? Em todo o caso, isto começa a ser um bocado preocupante.

terça-feira, 3 de abril de 2012

pseudo fashion bloggers

Acho um piadão a pessoal que cria um auto intitulado "blog de moda" e se auto intitula "fashion blogger" única e exclusivamente num exercício narcísico de promoção pessoal. Já vi vários em que, sob a égide da liberdade criativa e das tendências da estação, os autores vão tirando fotografias ao espelho, com trapinhos que compram na Zara ou na H&M e acessórios Feira da Ladra, porque o vintage está muito in. Depois, escrevem duas ou três linhas sobre a sua original criação, traduzem-na mal e porcamente para inglês e espanhol e está feito o post.

Algumas destas bloggers desafiam (e ainda bem) os padrões de beleza da sociedade atual - não são particularmente agradáveis à vista. Mas isto ao ponto de ser impossível considerá-las, lá está, fashion bloggers. Era preferível chamarem àquilo "o blogue em que tiro fotografias a mim própria ao espelho e por acaso, graças a deus, apareço vestida".

Isto porque, para mim, a moda não é bem "o que cada um quiser"... É certo que cada um se veste como bem entende e lhe apetece, mas isto sem pretensões de se tornar "moda".

A moda, como conceito, será uma espécie de limite virtual e utópico que se define para os padrões estéticos de uma sociedade e depois, em cada estação, se tenta alcançar ou superar. Seja o mais bonito, o mais diferente de tudo o que foi feito antes, o mais sentido, o mais ultrajante... o mais qualquer coisa. Se não, para mim, não é bem "moda", nem pode ter pretensões de se tornar moda.

Mas pronto, live and let live. É claro que não estou aqui a defender que os pseudo fashion bloggers sejam erradicados do planeta... eu também dedico este espaço a escrever meia dúzia de opiniões que muitos considerarão ridículas, desinteressantes e pseudo-qualquer-coisa. À chacun son goût.

sexta-feira, 30 de março de 2012

irmãos de sangue

Ontem quando saí do trabalho encontrei um coelho no parque de estacionamento. Vivo, entenda-se, aos pulinhos no meio da estrada. Há aqui vários. Aproximei-me dele (confesso que de telemóvel em punho para lhe tirar uma fotografia) mas apercebi-me então de que era cego, ou tinha ficado recentemente, já que o seu tamanho indiciava que não tinha acabado de nascer e duvido que, cego, durasse muito tempo por estas bandas. 

Fiquei sem saber o que fazer, perante aquele bicho completamente indefeso e senti-me bastante mal. Tentei direcioná-lo para fora da estrada - eu aproximava-me, ele ouvia e afastava-se - e ele lá acabou por ficar na zona verde (ervas e lixo) que rodeia o parque de estacionamento. Tive de me ir embora e construir na minha cabeça a ideia de que ele se tinha safado, que não ia voltar à estrada depois, nem acabar esborrachado no asfalto. É tão triste e solitário, morrer na estrada, sozinho, sem saber sequer o que lhes aconteceu. Fui para casa um bocado deprimida, com a situação mas também por outra coisa. 

É que vivemos tão mergulhados nas nossas vidas miseráveis - é carro, é casa, é contas, é crise, é corrupção, são os filhos que queríamos ter  e não dá jeito - que nem paramos para pensar no que é verdadeiramente importante: a base disto tudo, o Planeta a que pertencemos (não, não é "nosso"). Há ciclos intermináveis e fundamentais para a nossa sobrevivência que nos passam ao lado... ou seja, ainda há coelhos no meio desta epidemia de desenvolvimento e produtividade em que vivemos. A viver em rotundas e parques de estacionamento, mas ainda os há.

E é uma falta de respeito tão grande, esta nossa ousadia em ignorar tudo isso. Se calhar endoideci, mas sinto que devíamos voltar aos rituais de agradecimento pelas colheitas, aos ritos do Solstício e Equinócio, às grandes festas populares (que a Igreja se encarregou de apelidar de pagãs ou heréticas). 

Por um lado, serviriam para nos lembrarmos da nossa quase insignificância; serviria para pararmos umas quantas vezes por ano e nos recentrarmos, agradecermos, tomarmos consciência de que estamos aqui e agora neste Planeta, é um privilégio estarmos, e não temos o direito de ameaçar os outros que cá estão (sejam coelhos, baleias ou sobreiros) porque eles estão todos em pé de igualdade connosco. 

Por outro lado, estas celebrações serviriam para cultivar um maior sentido de união entre toda a Humanidade,  o reconhecimento de que somos mais pequenos do que a Natureza e iguais, nós humanos, na nossa pequenez. Falta-nos respeito e humildade. Todos nascemos ensanguentados, das entranhas das nossas mães - eu, os meus caríssimos leitores, todas as alminhas que povoam o Parlamento português, o Obama, o Hitler, a Merkel, todos - e todos vamos acabar a servir de comida para vermes ou, se tivermos sorte, para as flores que nesse terreno possam nascer. 

No fundo falta-nos reconhecer que somos todos seres deste mundo, todos iguais, e estamos cá para o mesmo: viver o tempo que nos couber de forma feliz e em paz. Gostava de saber o que aconteceria no mundo se, um dia, todos os "grandes", que nos representam e têm poder de decisão, tomassem verdadeira consciência (mas mesmo!) deste facto tão simples.

quarta-feira, 28 de março de 2012

nação deprimida

É enervante ver a forma como o povo português está a ser levado como uma manada de bois e vacas a caminho do matadouro. Lentos, pesados, sem ânimo, lá vamos nós: a troika a puxar, os ministros a lamber as beiças e a polícia a garantir que nenhum dos bovinos se arma em herói.

Tenho pena de não ter estado na manifestação que decorreu no Chiado. Não sei como reagiria na altura, mas provavelmente com a mesma surpresa incapacitante com que reagiram os manifestantes. Já não estamos habituados a levar porrada, é o que é. Muito menos da polícia. Isso são histórias antigas, de antes do 25 de Abril. Hoje vivemos em Democracia, somos todos civilizados, essas coisas já não acontecem. Pensávamos nós.

Mas em vez de raiva, ódio, revolta contra o que nos está a acontecer, parece que o sentimento generalizado é de tristeza. Andamos resignados, como se não acreditássemos sequer que merecemos melhor. "Cada Povo tem o Governo que merece", dizem. Pelos vistos, anos a ouvir frases como esta convenceram-nos de que, de facto, merecemos este estado de coisas. 

A nação anda com a auto-estima em baixo: somos os piores em tudo ou quase tudo e os melhores em coisas que não interessam nada; há corrupção, há desemprego, há miséria, há desigualdades; o futuro dos nossos filhos é negro. A nação está deprimida e, como tal, sente-se sem forças, não lhe apetece fazer nada. 

Políticas de repressão e medo ajudam à depressão. Mas também podem acabar por ter o efeito contrário. Se eu tivesse estado na manifestação do Chiado, teria reagido com a mesma surpresa incapacitante com que reagiram os outros. Mas não estive. E agora o factor surpresa desapareceu. Em futuras manifestações, aqueles que lá estiverem (incluindo eu) sabem ao que vão. Sabem que pode haver porrada.
 
A polícia pode sentir-se à vontade e  até muito confiante ao controlar um rebanho. Agora... uma manada de touros em fúria, armados com o que estiver mais à mão (ou até, quem sabe, uma guerrilha mais organizada para garantir que, por cada velha pontapeada, um polícia pega fogo) será bem mais difícil de controlar e de direcionar para o matadouro... Digo eu.

quinta-feira, 22 de março de 2012

control freaks

Razões que levam alguém a tentar controlar a vida dos que lhe são mais próximos, não necessariamente por esta ordem:

  1. Demasiado tempo livre.
  2. Incapacidade de se centrar na sua própria vida e repúdio pela auto-análise.
  3. Hábitos de megalomania e laivos de autoritarismo.
  4. Recusa em reconhecer os outros como pessoas independentes de si, com o direito de gerir as suas próprias vidas como bem entenderem.
  5. Porque os outros o permitem.

Querer controlar tudo é impossível, acreditem. Também eu já tentei e falhei. Não percam tempo com isso e tomem as rédeas da vossa própria vida, sim?

segunda-feira, 12 de março de 2012

coisas boas da vida #3

Mais um! Quando estamos bem dispostos devemos fazer listas de coisas que nos fazem felizes, para recorrermos a elas quando estivermos mal dispostos.. e ficar bem mais depressa.

Sem ordem específica, fora o primeiro.
  1. A minha mãe
  2. Boas memórias com velhos amigos
  3. As conversas com os meus pais
  4. Ter a casa toda limpa
  5. Ir ver o mar
  6. Passear no paredão
  7. Ir jantar fora
  8. A Sónia
  9. Ter ganho um pai que é um poço de cultura, histórias e ensinamentos
  10. Ter um bom emprego
  11. Serões de séries com mantinha
  12. Domingos à tarde
  13. A senhora dos bolos
  14. As tardes em que vejo o Mir a correr que nem uma seta pelos campos
  15. Sábados à noite
  16. O Tumblr como fonte de inspiração inesgotável
  17. O Mir a dormir com a cabeça numa almofada
  18. O piano
  19. Aprender coisas novas 
  20. Ser surpreendida com uma flor, um bilhete ou um email
  21. Ter o candeeiro arranjado
  22. Vaidades como maquilhagem, ténis, roupa nova, pintar o cabelo e afins
  23. Pipocas com sal, gomas e chocolates com recheio de caramelo
  24. Pensar em coisas boas antes de dormir e ao acordar
  25. Cantar no carro
Quais são as vossas coisas preferidas? Não é preciso contarem-me tudo... digam só uma ou duas.

quinta-feira, 8 de março de 2012

a típica namorada chata

Hoje é o Dia da Mulher, mais uma efeméride ;) que servirá para nos lembrarmos da importância de determinadas eventos ou pessoas, já que em dias "normais" não nos lembraríamos. Mas não vou aqui dissertar sobre a importância das efemérides (deixo essa difícil tarefa para outro senhor), mas sim falar-vos de um estereótipo que este vídeo me suscitou.

A típica mulher, aparentemente, é a que precisa de ouvir certas coisas para lidar com os seus dramas pessoais de insegurança, ciúme e medo do abandono. É aquela que gosta que a elogiem e que vão com ela aqui e ali, aquela que não gosta de ser contrariada e precisa de sentir que é a única no mundo para o seu parceiro, aquela que gosta de ver que está no topo das prioridades dele, se não for como número 1, nem que seja como número 2 ou 3, a seguir ao futebol e à mãe dele e com azar é o número 4, a seguir ao futebol, à mãe e aos amigos. Isto é tudo verdade.

O problema é que, aparentemente, a típica mulher é apresentada como a típica namorada chata como tantas vezes já ouvi dizer. Bem sei que esta música é humorística, feita com base num estereótipo, e que os estereótipos dão vontade de rir. Mas também sei que por trás de um estereótipo está um sentimento de verdade - aliás, a piada é essa, é ouvir aquilo e pensar "olha que giro, é que é mesmo verdade!". A "verdade" de um grupo de pessoas em relação a outro. Neste caso, dos homens em relação às mulheres.

Portanto, meus amigos, devo dizer que se, de início, a música me deu vontade de rir, nos minutos seguintes perdeu a piada toda. Porque para muitos homens, que vão ouvir aquilo, as mulheres são, regra geral, umas chatas. Assim como "os pretos são, regra geral, burros" ou "os gordos são, regra geral, grandes preguiçosos" ou "os ciganos são, regra geral, violentos".

E acho que este sentimento, de que as Mulheres são umas chatas, está na base do falhanço de grande parte das relações que vejo espatifarem-se à minha volta. O individualismo dos homens da minha idade (e cá estou eu a generalizar um bocadinho) associado a uma enorme imaturidade - em que homens de 30 anos vivem para as saídas à noite, os jogos de futebol e os amigos - destrói qualquer relação, por menos "chata", ou mais "atípica" que seja a namorada.

Obviamente que este texto não vem exigir (nem poderia) aos homens nenhum tipo de castração como o deixar de ir ao futebol ou deixar de sair com os amigos. Ninguém vos pode exigir que deixem de ser quem são. Mas é um alerta para as prioridades, um alerta para o preço (demasiado alto, para alguns) que terão de pagar pela vossa imaturidade, por esse desejo de permanecerem Peter Pans e por essa recusa em perceber e aceitar coisas tão simples como as implicações normais que advêm de qualquer relação entre  pessoas adultas.

Já vi algumas boas relações definhar e morrer por causa disso... algumas de pessoas da blogosfera que, possivelmente, até vão ler isto. E tudo porquê? Para quê? Para que os Romeus possam reafirmar a sua masculinidade? Os verdadeiros "homens" sabem que as namoradas são umas chatas e por isso não se deixam subjugar por elas? É isso que estão a tentar provar, afirmando-se num Eu que esmaga o outro?

Enfim. Esta música é uma lamentável demonstração do machismo e imaturidade dos homens da minha idade (crucifiquem-me). E o mais grave é que a maioria dos homens (e mulheres) não o vão interpretar assim. Até parece que os estou a ver, o casalinho de manhã no carro, na fila para o trabalho, a ouvir a música e a comentar um para o outro. Ela, a rebentar de inseguranças: "Tão giro! Somos tão chatas amor, não somos? Mas tu gostas de mim na mesma não gostas? Hihihi". Ele, a rir: "Que remédio!" E assim se espeta outra farpa e lá vai ela calada o resto da viagem, a matutar no seu rabo grande ou na nova amiga do Facebook dele.

Em resumo, deixo-vos um desafio. Se forem daqueles que vêem a vossa mulher como a típica namorada chata, façam a vós próprios uma pergunta: quando foi a última vez no vosso relacionamento que a fizeram sentir-se especial? E têm a certeza de que conseguiram fazê-la sentir-se especial? É que uma mulher que se sente amada, protegida, verdadeiramente especial e diferente de todas as outras para o seu parceiro... não é chata. Garanto-vos.

segunda-feira, 5 de março de 2012

paixões e revoluções

Ir a um concerto de Metal pode ser uma experiência enternecedora. Descobri isso este sábado, quando fui ver Shadowsphere ao S.Jorge (a primeira vez que tão digno espaço nos recebeu, aos guedelhudos vestidos de preto). Experiência enternecedora mais por culpa dos Bless The Oggs, a banda de abertura, do que propriamente dos experientes Shadowsphere. Ou mais por culpa até do público presente, do que da banda de abertura. 

Foi um concerto familiar, de netos e avós. De facto, a avó foi das primeiras pessoas em que reparei quando entrei na sala escura e ainda quase vazia. Quando começou o barulho, lá estava ela, em pé, a ver o presumível neto em palco e a pensar sabe deus o quê destes rituais de chinfrineira e cabelos a voar. Imaginei o que estaria a pensar e a sentir esta avó acerca desta realidade tão diferente das matinés dançantes, ou bailaricos populares do seu tempo. Afinal de contas, este também é o seu tempo (como diria uma pessoa que eu conheço). Mas como viverá ela esta passagem do tempo?

A par da avó, havia também uma presumível filha de um dos músicos em palco. Com os seus 10 anos? e de ouvidos protegidos pelas mãos da mãe, batia o pé e cantava em inglês a gritaria quase indecifrável da banda do pai.  Ou seria do irmão mais velho? Não interessa. Passei metade do concerto a pensar em como esta era uma experiência familiar, e ainda bem.

A outra metade do concerto passei-a a observar um dos guitarristas dos Bless The Oggs, um rapazola de óculos e cabelo encaracolado que personifica tudo aquilo que é o Metal (ou o Rock em geral), e ainda bem. Não sei se foi o seu aspeto desajeitado de adolescente a passar pela puberdade. Não sei se foi dos óculos, ou de ele estar a passar a "fase má" do cabelo - aquela em que o começam a deixar crescer e parece sempre que têm a cria de um animal peludo a viver em cima da cabeça (nuns dias mais aninhadinha, noutros mais irrequieta). 

Se calhar foi tudo isto ao mesmo tempo, mas a verdade é que o concerto foi uma experiência enternecedora. Com o seu ar de geek, cabelo pavoroso e óculos à cromo, ele estava a viver a sua paixão. Provavelmente é gozado na escola, mas o Metal é isso mesmo, ser-se aquilo que se quer ser e viver a sua paixão, seja de cabelos em fase má, corpetes pirosos ou botas que pesam 5kg. E ninguém tem nada com isso! Até porque, com os seus cabelos brancos, tosse cavernosa e olhos a brilhar por detrás dos óculos espessos, a avó também viveu um bocadinho ali, ao ver o neto em palco. E a miúda também. 

É uma pena que este tipo de união, que se sente em torno destas experiências de entretenimento e que também já senti no Wacken não se sinta, ainda, em relação a outras realidades de Portugal. Aos concertos e ao futebol vão avós, filhos e netos. Mas porque não nos unimos nós em torno daquilo que realmente pode mudar a nossa vida? Sim estou a falar de revolução outra vez. Será que a revolução já não nos apaixona? 

sexta-feira, 2 de março de 2012

stay-at-home-mom

Ultimamente ando com uma vontade enorme de me tornar dona de casa. Isto pode parecer ridículo, mas imaginem: ficar em casa, ter tudo limpo e arrumado, dedicar-me às tarefas domésticas, fazer bolos com enfeites maravilhosos, receber visitas ao lanche, experimentar decorações diferentes, criar livros de recortes e álbuns de fotografias, passar tempo com os filhos (ainda inexistentes) e ainda ter tempo para me dedicar a outras coisas, como este blog e afins... tudo isto parece-me tão apetecível, que começo a amaldiçoar a emancipação da mulher.

Acho que se a Internet tivesse chegado às massas nos anos 20, a minha vida seria completamente diferente... e provavelmente melhor. Já nenhuma mulher teria tido a epifania "tenho o direito a uma carreira de sucesso, tal como os homens", que, mal sabiam elas, seria o equivalente a "toca levantar-me todos os dias de manhã e fazer o percurso casa-trabalho, para ficar 8 horas por dia sentada em frente ao computador, porque isso é que é  ser-se independente e bem sucedido". Que raio de ideia.

Enfim... a minha mãe vai odiar este post. 

quinta-feira, 1 de março de 2012

a estrutura informal

O meu pai desde há muito tempo me ensinou o conceito de "estrutura informal" numa empresa. E o que será isso, perguntam vocês os meus dois ou três caríssimos leitores? Pois bem, assim como existe uma estrutura formal, de chefes, sub-chefes e empregados, uma hierarquia empresarial baseada em regras e num código de ética, escrito ou implícito; também existe uma estrutura informal, baseada em duas coisas muito simples: a popularidade e a coscuvilhice.

Em todas as empresas em que trabalhem, por mais pequena ou maior que ela seja, vocês vão encontrar uma estrutura informal. Umas vezes mais bem escondida, em conversas de cigarro ou café, noutras bem à vista de todos, incluindo cisões em grupos distintos, ao estilo dos gangs de prisão, em que a hostilidade entre uns e outros é mais notória e a tensão sente-se no ar.

Se é inevitável encontrar a estrutura informal ou por vezes ir de encontro a ela, o melhor é estarmos preparados. Como? Aplicando uma regra que sempre me ensinaram também (e que aprendi por experiência própria): saber o menos possível e, quando não formos capazes de nos proteger e nos atiram com um rumor para cima, não abrir a boca por nada deste mundo. Simples de memorizar, mas difícil de pôr em prática. Porque a estrutura informal é como um polvo que nos envolve e é preciso muita ginástica para não chegarmos ao fim do dia com uma série de tentáculos presos a nós.

Outra forma de nos mantermos mais ou menos à parte da estrutura informal é nunca nos esquecermos da nossa "máscara" em casa. Todas as pessoas usam máscaras no dia-a-dia e no trabalho elas são mesmo essenciais: é um meio em que vamos encontrar pessoas muito diferentes de nós e por vezes muito pequeninas e com frustrações muito grandes e não sabemos como elas podem reagir a essas diferenças. O que não faria grande mal, não fossemos nós obrigados a passar 70% do tempo das nossas Vidas com eles/as. Por isso vos digo caríssimos dois ou três leitores: usem e abusem da vossa máscara de trabalho.

E o que é isso da máscara? É aquilo que optamos por mostrar: em primeiro lugar, o que vestimos (porque é aquilo que toda a gente vê, mesmo que nunca fale connosco na vida), depois o que fazemos no local de trabalho, o que dizemos e a forma como o dizemos... claro que às vezes lá sai uma disparada que não conseguimos controlar, mas pronto. 

E dizem vocês "Ah e tal mas isso não é ser verdadeiro." Desculpem lá... Eu não sou, de todo, a mesma pessoa no trabalho e fora do trabalho. Eu sou todas as minhas máscaras: no trabalho, em frente aos meus pais, com os meus amigos, com o meu namorado, com desconhecidos ou recém-conhecidos, com homens e com mulheres. Tenho máscaras para tudo isso e sou tudo isso. 

Isso não é ser menos verdadeiro... neste caso é, e perdoem-me o auto-elogio, ser bastante inteligente.