sexta-feira, 17 de agosto de 2012

como amar sem desaparecer da face da terra

(ou "o meu post mais longo de sempre")

Será Amor ou Dependência é um livro que complementa outro de que já vos tinha falado e ajuda-nos a compreender (e a assumir, se for esse o caso) que temos tendência para, ou que estamos numa relação de dependência amorosa. Podem olhar este post como uma espécie de "ficha de leitura", ou seja, não dispensa o original, mas já vos dá umas luzes sobre o assunto. Note-se que estes foram os pontos que eu retive, havendo muitos outros igualmente importantes a descobrir no livro.

Através da partilha de testemunhos de centenas de pessoas, este livro reúne as características básicas de uma relação de dependência amorosa e oferece pistas sobre como podemos transformá-la num amor saudável.

Não deve ser vergonha admitir que se tem uma relação de dependência amorosa - sim, funciona como o alcoolismo ou como o vício da droga - mas também não devemos rotular nada demasiado cedo. Às vezes as coisas não funcionam porque não encaixam e ponto final, não há que "psicologizar" tudo.

O que é a dependência amorosa

Viver uma relação de dependência não é saudável e na maioria das pessoas fará disparar uma série de alarmes que nos indicam que algo não está bem. Mas noutros casos, estes alarmes não disparam. E o dependente vai progressivamente agachar-se até estar com a coluna paralela ao chão, sempre de forma a agradar o co-dependente e evitar o abandono. Nessa altura, ou uma qualquer réstia de amor-próprio lhe abre os olhos e a relação muda (ou termina); ou a pessoa habitua a coluna a essa posição, mentindo a si própria sobre o que se está a passar. Estes últimos casos podem ter consequências graves, nomeadamente situações de violência ou até o suicídio.

Deixo-vos com um resumo de "sintomas" deste fenómeno e ainda algumas técnicas para transformar a relação numa de não-dependência. Sim, porque não é necessário que os dependentes se afastem. Contudo, às vezes isto é inevitável, nomeadamente se um se começar a tratar e o outro não, pois dificilmente saberá  lidar com o seu novo parceiro, já saudável. Mas se isso acontecer será de forma muito natural (para quem se tratou) e sem dor, pois entretanto está curado e descobre um novo rumo para a sua vida: a sua própria Pessoa.

"Sintomas"

Todas as relações amorosas têm um certo grau de dependência. O preocupante é quando as coisas começam a assumir uma dimensão que esmaga um dos parceiros. Assim, são "dependentes de relacionamentos" ou encontram-se mesmo a viver uma relação de dependência, as pessoas que (entre muitos outros fatores) por exemplo:
  • Não consideram que tenham grande valor próprio nem interesse enquanto Pessoas e por esse motivo precisam de alguém para dar sentido/uma razão à sua vida;
  • Saltitam de relação em relação sem grande critério e por vezes partem para outra sem terminar a anterior, para evitar momentos de solidão;
  • Têm forte apetência por parceiros emocionalmente indisponíveis, de forma a prolongar a adrenalina da "luta" e evitar os momentos de paz que lhes permitiriam olhar para os seus próprios problemas;
  • Não gostam de estar solteiros, nem mesmo sozinhos durante muito tempo, pois não sabem o que fazer consigo próprios;
  • São mal-tratados pelo parceiro, mas acreditam que se o amarem o suficiente as coisas podem melhorar, alterando comportamentos pessoais para o agradar ou simplesmente para evitar problemas;
  • Já não suportam a vida com o parceiro, mas sentem que não saberiam viver sem ele;
  • Acreditam que seriam felizes se o parceiro mudasse alguns aspectos em si, nomeadamente a forma como os trata. Ou seja, depositam a chave para a sua própria felicidade no outro e não assumem a responsabilidade sobre a sua vida.
  • Usam os jogos de poder, chantagem emocional e manipulação para tentar mudar o outro, em vez de se focarem naquilo que podem controlar e mudar: a sua própria vida, as atividades que fazem no dia-a-dia, as experiências que escolhem ter e as aprendizagens que escolhem fazer.

Go cold turkey

Para quebrar o ciclo de dependência e começar a construir relações saudáveis, aqui ficam alguns passos que retive das minhas leituras (não só deste livro). Ao começar a mudar por si só, o parceiro vai ver-se obrigado a mudar também, a adaptar-se. Caso contrário, a separação será inevitável, natural e até um grande alívio.
  • Investir imenso em si próprio. Começar a passar mais tempo sozinho e descobrir-se: o que gosta, o que não gosta, o que lhe interessa, em que é talentoso, o que pode aprender, etc. Até porque numa relação, os parceiros devem complementar-se. E se não tiver nada para oferecer, limitando-se a assimilar o outro, ele acabará por fartar-se. Ninguém quer uma fotocópia de si próprio ao seu lado.
  • Recuperar velhas amizades, passar tempo com pessoas diferentes, rodear-se do que lhe faz bem. Ter tempo para mais, na vida, do que apenas para o seu parceiro e a sua família. 
  • Aceitar o outro tal como ele é, não tentar mudá-lo, ensiná-lo, corrigi-lo nem ajudá-lo. Em nada. Isto é fundamental. Se tal aceitação do outro não for possível, é porque não existe amor saudável suficiente para manter a relação e porque estamos apaixonados por algo que não existe na realidade, por um "potencial de pessoa", por aquela pessoa em que esta se poderia tornar.
  • Parar com os jogos de poder. Não assumir o papel de vítima para atingir objectivos, nem o de dominante  para o tentar "dobrar" (pois o co-dependente irá pôr-se a jeito para se fazer de vítima e, então, manipulá-lo). Parar de competir. Dizer o que sente sem criticar nem julgar o outro. Isto é muito importante, pois a mínima crítica leva o co-dependente a fazer-se de vítima e o dependente fica desarmado.
  • Descomplicar e desdramatizar as situações, pois a adrenalina só leva a uma coisa: problemas nervosos. Resumindo: don't sweat the small stuff. 
  • Compreender que o outro nunca o vai amar incondicionalmente. Nunca. Isso cabe-lhe a si próprio fazer. Se tal for muito difícil, aí sim, procure ajuda psicológica.

E... basicamente é isto. Espero ter ajudado. Aqui deixo o meu "obrigadinho" à senhora Brenda Shaeffer. E agora vão lá congelar o vosso peru.



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