sexta-feira, 26 de julho de 2013

a mentira do instagram

Segundo este artigo, um determinado tipo do uso do Facebook - nomeadamente aquele que consiste em fazer scrolls intermináveis pelos perfis dos amigos, ou sobre as suas fotografias em particular - é perigoso, já que potencia sentimentos depressivos e de solidão.

Estudos apontam para que as pessoas desenvolvam inveja e raiva em relação aos updates dos seus amigos/conhecidos e criem uma autêntica competição entre a sua própria vida e aquela que os outros optam por mostrar no Facebook.

O Instagram, sendo uma rede social que consiste apenas na publicação de fotografias, comentários e "gostos" às mesmas, é um autêntico palco de futilidades (salvo raras exceções que usam a rede para promover o seu trabalho ou afins). Assim, multiplica os efeitos nefastos por mil, já que uma imagem tem o poder de provocar sentimentos negativos muito mais intensos e rápidos do que um "status update". 

O que me chamou mais a atenção neste artigo, e que tive oportunidade de confirmar nestas férias, é o desligamento da realidade que os "instagramers" se arriscam a sentir. Ou seja, uma pessoa com Instagram dedica x minutos da sua vida (por vezes diariamente) a tirar fotografias com o telemóvel, em várias posições e de vários ângulos. Depois, dedica y minutos à escolha e filtragem das fotografias que ficaram bem, do rol das que tirou. Finalmente, dedica z minutos à fotomanipulação da fotografia eleita, através das inúmeras aplicações gratuitas (e não só) disponíveis para o efeito. Resultado: a pessoa despendeu x + y + z minutos de forma a conseguir publicar uma fotografia no Instagram, que vai depois à avaliação dos seus pares.

Acontece que essa mesma pessoa se esquece de que os outros instagramers fazem o mesmo, imaginando que as fotografias dos outros são fruto de um clique, um filtro, um momento perfeito.

Não é verdade. Pelo que pude observar diretamente, a vida real de pessoas que poderia considerar heavy-instagramers ou facebookers, não é (nem de perto) tão entusiasmante, preenchida ou bem sucedida como a sua galeria de fotos leva a crer. Onde se apresentam jantaradas com amigos, existe na verdade a contagem dos trocos para ver se o dinheiro chega até ao fim das férias. Onde se apresentam fotos idílicas de paisagens de praia, existem na verdade horas e horas de aborrecimento e até solidão. Onde se apresentam sorrisos apaixonados, existe na verdade uma relação fraca e sem cumplicidade nenhuma quando não se impõe a necessidade de parecer bem para a câmara. 

O que passa no filtro é, claramente, uma distorção da realidade.

Agora é pensar nos efeitos que esta distorção tem sobre os seguidores/fãs e sobre a pessoa que publica em si: uma competição de momentos e de sorrisos cuja base de sustentação é mole, a rebentar de inseguranças, a precisar de validação constante.

O uso e a consulta moderada destas plataforma (uma vez por semana? de três em três dias? uma vez por mês? depende da lucidez de cada um) será com certeza inócuo para grande parte das pessoas. Mas não é difícil ser-se sugado para esta espiral e esquecer-se de um princípio básico: uma pessoa que esteja a viver momentos verdadeiramente felizes e inesquecíveis, não tem tempo nem cabeça para os pôr online. Muito menos de forma requintada, simétrica e flawless, como esses momentos são apresentados no Instagram.

terça-feira, 16 de abril de 2013

de saída

Ontem houve uma situação caricata com uma pessoa que está prestes a sair da empresa. Estava convocada para uma reunião, não apareceu e depois, quando fomos ter com ela para a contextualizar sobre o trabalho que havia a fazer (e perceber porque não tinha saído do lugar), disse que tinha tentado perceber se sempre era para ir ou não à reunião, mas como não nos tinha visto (estávamos ao fundo da sala) tinha-se deixado estar. Isto enquanto corava violentamente. E o ecrã do seu PC mostrava uma qualquer página de um jornal online. 

Isto fez-me lembrar a situação do Governo. O nosso Governo comporta-se como um empregado que foi dispensado e está a cumprir os últimos dias de casa. Já não se esforça por chegar a horas e sai sempre um bocadinho mais cedo. Com uma restruturação colada a cuspo, parece que os novos ministros não sabem bem ao que vão, ainda estão a tentar assentar (e perceber porque raio aceitaram o cargo, com certeza), ficar confortáveis para começar a trabalhar. Isto debaixo de fogo intenso por parte do povo, dos comentadores e do próprio partido.

Nesta altura muitos se questionam sobre as verdadeiras vantagens da queda do Governo. É complicado quando a oposição dá sinais claros de não conseguir segurar nada e não haver nenhuma alternativa real à vista. Mas continuo a achar que o Governo tem de cair, por dois motivos. 

Primeiro porque, independentemente do que aí venha, já perdeu toda a legitimidade para continuar. As mentiras de Passos estão gravadas num vídeo hilariante de 10 minutos no YouTube. Relvas saiu, mas tarde e com pancadinhas nas costas. Portas revelou-se um fantoche ou uma boneca de trapos. Não há uma figura neste Governo a quem se possa dizer "sim senhor". Não dão uma para a caixa.

E segundo, porque o Governo está "em tilt", ou seja, a pressão, o falatório, a insatisfação é tanta, que Gaspar e Passos avançam como uma debulhadora levando tudo à frente. Já não têm capacidade para parar, respirar e mudar de rumo. 

Parece que estamos num compasso de espera. Cai, não cai, será que é desta? Não sabemos. Mas vem aí o 25 de Abril e, esperemos, nova onda de contestação nas ruas. A ver se com mais um abanão forte a coisa cede.

quinta-feira, 14 de março de 2013

acordar de manhã

Estamos a passar por uma crise económica profunda, por motivos profundamente injustos.
Somos governados por psicopatas (ou dito de uma forma que possa ser levada mais a sério, por pessoas com estruturas de personalidade psicopática).
Estamos a destruir o planeta em que vivemos.
Cada vez há menos bebés a nascer.
O fosso entre ricos e pobres é gigantesco.
Um grupo pequeno de pessoas domina o mundo inteiro através de jigajogas de dinheiro e poder. Ah, e são psicopatas.
Querem matar os mais velhos para poupar.
Espalham-se doenças para vender medicamentos.
Só lançam medicamentos no mercado consoante o que convém, embora provavelmente já exista cura para grande parte das doenças que nos assolam.
Os governantes pertencem a sociedades secretas que mexem os cordelinhos para garantir que o dinheiro (e, consequentemente, o poder) não sai do seu círculo restrito.
O 11 de Setembro foi uma fabricação.
Há pessoas a morrer de fome em África e nos EUA há pessoas que levam para casa compras no valor de mais de mil dólares de uma vez só, apenas por 20 ou 30 dólares, graças a um fenómeno chamado Extreme Couponing.
Não havia armas de destruição massiva no Iraque.
Portugal tem quase 1 quinto da sua população desempregada.
O salário mínimo em Portugal não chega a 500 euros mensais. O meu chefe ganha cerca de 60 mil euros por mês. E os futebolistas? Nem sei.
O novo representante do deus católico na Terra (e consequentemente, o líder espiritual de milhões de pessoas por todo o Planeta) diz que «as mulheres são naturalmente inaptas para desempenhar cargos políticos», entre outras barbaridades próprias da Idade Média.
Há um grupo de países com poderio nuclear suficiente para mandar o Planeta pelos ares umas centenas de vezes. O homem que controla o "botão vermelho" é, muito provavelmente, um psicopata.


É isto. Acordar de manhã e ser engolido no minuto seguinte. Em Portugal, cinco pessoas põem fim à vida diariamente. I wonder why.



quarta-feira, 6 de março de 2013

o mandato invisível

Acho extraordinário (e exasperante) que o Presidente da República, perante a crise, o desemprego, a insatisfação, as grandoladas, o BPN, o coelho enforcado e agora uma manifestação que mobilizou um milhão e meio de Portugueses, não esboce a menor reação. Não sai de casa, não faz uma declaração ao país, não dissolve a AR (seria pedir demais), não condena, não aplaude, nada. 

É um boneco de cera que já se demitiu, sem se demitir, há meses. Estará doente? Cansado? Aterrorizado? Esta é a apoteose de um mandato invisível, ainda mais que o anterior, em que Cavaco age perante os cidadãos como o bibelot do País, uma figura de madeira fria, intocável no seu recolhimento e, o que eu acho verdadeiramente gritante no meio disto tudo, completamente insensível perante o sofrimento dos que o elegeram. 

A atitude de Cavaco só mostra uma coisa: nojo pelos Portugueses. Não há ali uma réstia de calor, humanidade, não há preocupação, nem mesmo pena. Não há ali nenhum sentimento que possa levá-lo a agir. Só há nojo, medo e desinteresse, há apertos de mãos ao povo lavados a desinfectante em gel na segurança do seu Mercedes.

Assim não, senhor Presidente, assim não. 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

henrique, o raposão

A minha opinião sobre o que escreve Henrique Raposo no Expresso é, regra geral, muito negativa. Mas o que hoje escreveu revoltou-me especialmente, de tal forma que até me atreveria a dizer que me apetece partir-lhe a cara, mas isso seria imediatamente considerado um tique de esquerda ou coisa parecida, portanto fiquemo-nos pelo "revoltou-me especialmente".

Os portugueses estão finalmente a reagir a olhos vistos às medidas injustas que lhes têm sido impostas (com resultados zero). Reagem agora com formas de expressão mais direcionadas e "cirúrgicas" do que as manifestações gigantescas que o Governo insistiu em ignorar. O Movimento dos Indignados de Lisboa tem convocado ações específicas de protesto face a determinadas figuras do Estado, como seja a que assistimos durante a visita de Miguel Relvas ao ISCTE.

Ora coube ao senhor Henrique Raposo (e a outros tantos iluminados) classificar esta ação de protesto como uma violação da liberdade de expressão do senhor Relvas e, pior, como uma ação "fascista". 

Num tom desprezível, jocoso e paternalista, Henrique Raposo fala dos «novos cantadeiros do "Grandola Vila Morena"» como «aprendizes de fascistas», criticando a «total intolerância em relação ao outro lado», quando nenhuma tolerância foi tida para com este lado; tomando por ódio, «um ódio que escorre pelos cartazes, pelos rostos, pelas vozes», aquilo que na verdade é desilusão, desesperança ou desespero e desemprego. Mistura conceitos históricos «é a marca do fascista, seja ele castanho ou vermelho» (agora é moda, esta do "fascismo vermelho") para confundir os leitores ou talvez ele próprio acredite no conceito, coitado; e exagera factos: «temos a consequência lógica das duas premissas anteriores: o culto da violência».

Henrique Raposo rotula de «extrema-esquerda» pessoas que (muitas delas sem sequer ter filiação política)  se fizeram ouvir num protesto pacífico (ainda que inflamado) contra aquele que eu considero atualmente ser o maior símbolo de um Governo opressor, mentiroso e corrupto. Acusa-os de serem «fascistazinhos de vão de escada» e convida-os a continuar «a mostrar que não sabem viver em democracia, que não sabem aceitar opiniões contrárias» e «a ameaçar».

Olhe senhor Henrique Raposo, bem sei que nunca lerá este texto, mas permita-me cuspir no seu. Mete nojo  o desprezo que demonstra pela situação Portuguesa, ao ponto de ter escrito, do alto do seu pedestal, contra pessoas que têm a coragem para dizer "Não" a um Governo que (embora eleito democraticamente) é uma farsa, uma mentira aos eleitores. A razão que leva o Expresso a mantê-lo no poleiro, com crónica miserável atrás de crónica miserável, muitas vezes fundamentada mal e porcamente, é para mim um mistério.

Só posso concluir o seguinte: o seu convite não cairá em saco roto. Mas permita-me uma reformulação: continuaremos, sim, a lutar pela Democracia. Continuaremos sim, a mostrar que não aceitamos (e muito menos prestamos vassalagem) a figuras viscosas como Miguel Relvas. Continuaremos a lutar para que também os seus filhos (e aí é que está a ironia da coisa) possam viver num País com futuro, sem serem convidados a emigrar. 

Quanto aos estudantes do ISCTE e todos os que se têm mobilizado, em manifestações maiores ou menores, só tenho a dizer uma coisa: obrigado.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

a ditadura da fatura

Agora quando forem ao supermercado ou à praça e se prepararem para pagar as compras, não se esqueçam de olhar discretamente à vossa volta, por entre os repolhos e folhas de alface ou outras leguminosas que sirvam o propósito da camuflagem. Olhem bem, primeiro para um lado e depois para o outro. Se o caminho estiver livre, toca a pagar como habitualmente. Se houver alguém a uma distância comprometedora, peçam fatura.

Não confiem nas velhotas que empurram as suas malas retangulares com rodinhas. Não confiem no homem que lê o jornal enquanto bebe a bica. Não confiem na peixeira que lava o chão, nem confiem no homem do talho de palito na boca.

O governo disse e está dito: desde o início deste ano, quem não exigir fatura nos estabelecimentos comerciais, está sujeito a uma multa entre os 75 e os 2000 euros. Portanto já sabem: cuidadinho.

Com esta animalidade, o governo faz de todos nós delatores, instaura uma nova espécie de PIDE, um controlo certamente inspirado  no Panóptico de Foucault: não é precisa a certeza de que estamos a ser vigiados,  não é preciso o polícia, o olhar inquisidor do chefe de finanças, nem do padre. Basta a suspeita, o medo, a vaga sensação de que podemos estar a ser observados, e toda a sociedade se auto-regulará em harmonia. Que belo feito, este.

Da minha parte vos digo: pelo sim pelo não, ao mínimo trejeito de dúvida por parte do comerciante quando eu mencionar o fatídico documento comprovativo, salto-lhe logo ao pescoço, que apertarei violentamente (enquanto espumo da boca e os olhos me saem das órbitas) até me faltarem as forças. Isto para que não restem dúvidas - à velhota, ao homem do jornal, à peixeira nem ao homem do talho - de que eu, de facto, exigi fatura.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

sair da armadilha

Ler de empreitada 80 páginas A4 num trémulo ecrã de computador era algo de inédito na minha pessoa, mas foi o que me aconteceu hoje, quando finalmente me decidi a olhar para o relatório Conhecer a Dívida para Sair da Armadilha, um documento de 130 páginas sobre a famosa "dívida pública". 

Este relatório, não só está bem escrito, apesar de algumas gralhas que a minha profissão não permite ignorar, e apesar de alguns capítulos mais técnicos (que deram luta a alguém "de letras"), como explica uma série de conceitos fundamentais para que não nos deixemos levar pelo discurso dos porcos na televisão. Permitam-me a referência Orwelliana, insultuosa que seja, já que o blog é meu.

Este documento tem uma componente verdadeiramente didática, já que ensina uma série de coisas sobre Economia - de onde vem a dívida, em que consiste, há quanto tempo existe e para onde vai, qual a diferença entre a dívida e o défice e de que forma estes dois conceitos estão relacionados, etc etc. 

Mas desempenha ainda uma importante função de denúncia relativamente ao estado lastimável em que se encontra o nosso país, a nível de corrupção, tráfico de influências, abusos de poder... no fundo, a enorme promiscuidade que se faz sentir entre políticos e administradores de empresas privadas, sendo o aparelho de Estado apresentado como aquilo que realmente é: um autêntico bordel, gerido com o aval do nosso sistema Judicial que, ainda que estrebuche, não tem capacidade para decapitar a besta.

Por tudo isto, tornou-se obrigatória esta referência no meu cantinho, para que vós, caríssimos e escassos leitores, não percam a verdadeira aventura que é descobrir a verdade sobre o nosso Portugal. Garanto-vos momentos de exaltação, assombro, eu diria até unhas roídas até ao sabugo e no final uma valente dor de cabeça. 

Mas já que estamos num país de indignados, em que moças de Cascais que querem "'mamála" e cães assassinos preenchem o nosso prime-time, indignem-se, desafio-vos eu, com algo à séria, com algo à Homem... indignem-se com isto.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

the gunpowder treason

Em tempo de crise a todos os níveis, sinto-me mal por ter como post mais recente uma baboseira qualquer sobre as coisas boas da vida. Mas parece-me que não há grande coisa a dizer. Já foi tudo dito, mais que uma vez. Eles continuam a não ouvir. Resta-me esperar pelo fim do mês e pela indignação generalizada, quando finalmente virmos quanto vamos passar a descontar para a cambada de proxenetas que nos governam. É esperar para ver se o povo é sereno ou se é desta que alguém rebenta com o Parlamento. Não há maior traição do que a que, em silêncio, fazemos contra nós próprios e contra o futuro. Aguardemos.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

coisas boas da vida #4

Com um começo de ano um bocadinho turbulento, apetece-me invocar boas energias e relembrar o que de bom me espera em 2013.

1 - Entrar no meu quarto quentinho, deitar-me debaixo dos cobertores, encostar a cabeça nas almofadas e ler antes de adormecer;

2 - Ter amigos que me apoiam como família, um namorado que é família e uma família que é... "le awesomeness" :)

3 - Ganhar o Euromilhões, seja o prémio mais baixo ou um maior, e sentir aquele baque no estômago ao ver os números a coincidir com a minha chave;

4 - Ver o Senhor dos Anéis pela gazilionésima vez e de repente ter uma saga inteiramente nova para acompanhar e rever obsessivamente: o Hobbit;

5 - Ver o meu cão sorrir enquanto dorme (sim ele faz isso);

6 - Ter um blogue onde posso despejar o coração sem que ninguém tenha nada com isso.

Feliz Ano Novo