quarta-feira, 12 de março de 2014

Tatcher e a falácia do conservadorismo

Neste fim de semana vi finalmente A Dama de Ferro, um filme em que Meryl Streep tem (again) uma interpretação notável. Além de me deixar a pensar na solidão da velhice - uma solidão física mas também mental, já que ninguém parece compreender-nos e deixamos de falar a língua do mundo - fez-me refletir sobre o Conservadorismo como política, ou sobre a ideologia de Direita em geral. Sempre tive dificuldade em compreender como é que alguém pode pensar assim e defender aquelas ideias. O filme ajudou a clarificar isto, mas reforçou o meu assombro.

Pelo que percebi, Margaret Tatcher acreditava que o seu país devia sacrificar uma geração ou duas em nome do "bem maior". Havia que fazer sacrifícios, cortes e aumentar impostos, além de adotar políticas altamente competitivas de forma a fazer a economia crescer e o país prosperar, a longo prazo. A senhora, embora cheia de boas intenções, estava (a meu ver) completamente errada. De facto, esta visão choca com um princípio básico da condição humana: só vivemos uma vez.  

Dado que só vivemos uma vez, não é possível governar um país exigindo o sacrifício de vidas ou de condições de vida da população. Sim, queremos todos um país mais próspero, mas não, não pode ser à custa de que fulano ou sicrano (ou uma geração ou outra) vivam menos bem. Isso é de uma injustiça abismal. Quem me diz a mim que os nossos netos merecem o meu sacrifício? Que esta geração merece menos que a próxima? Que não entramos na rota de colisão de um cometa e morremos todos entretanto? Tem de haver um equilíbrio. Governar o Presente, pelas pessoas de hoje ainda que com um olhinho no futuro.

Mas os governos atuais parecem só saber fazer duas coisas: ou governam sem ter o futuro em conta, num desrespeito pelo nosso Planeta que põe em causa as próximas gerações; ou governam sob o pretexto de um futuro melhor, ignorando as condições de vida atuais, de quem sofre. 

No fundo, Tatcher, que se orgulhava de conhecer a realidade dos Ingleses (sabia o preço do leite e da manteiga nos supermercados), vivia na redoma da fama, do poder e do dinheiro. O único sacrifício que teve de fazer foi algo de somenos importância para ela (a vida familiar), pois na verdade nunca lhe faltou nada. Ignorou o valor fundamental da igualdade entre os seres humanos, sob o pretexto de que uma sociedade não deve ser nivelada por baixo: cada um deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para prosperar e quem não está neste barco ou não souber nadar, afoga-se. Ora quando falta a um governante algo tão básico e humano como a empatia, o resultado só pode ser a revolta generalizada e violenta. A não ser, claro, em Portugal.

1 comentário:

Anónimo disse...

Back again? E em grande estilo! É muito curiosa a abordagem do assunto.De facto quem nos garante que as próximas gerações merecem mais(???)do que a actual? É claro que essa preocupação dos governantes neo-liberais não passa de treta,porque o que realmente interessa é que os accionistas maximizem. A pseudo liberalização, é tão sómente a libertação do capital numa deriva sem rosto e sem nação, a aterrar onde dá mais. De preferência e sempre onde a neo-escravatura exista ou venha a existir. A obrigação da presente geração é viver o melhor possível sem comprometer o futuro ecológico e económico dos que aí vêm. Ponto parágrafo, que o resto é ladaínha de impostores!

Macaco eléctrico